A sórdida - e ambígua - saga dos que entregaram seus aliados para a morte
Álvaro Oppermann
Um dos episódios mais bem guardados da Revolução Cubana tinha no bojo
uma traição em família. E só veio à tona em 2009, quando Juanita Castro
lançou o livro de memórias Fidel e Raul Meus Irmãos. A HIstória Secreta,
co-escrito com a jornalista María Antonieta Collins. Quinta dos sete
filhos de Ángel Castro e Lina Ruz González, Juanita traiu seus irmãos
trabalhando para a CIA entre 1961 e 1964, em plena Havana. "Foi uma
relação estreita com o arqui-inimigo dos Castro", diz a jornalista sobre
a informante de 83 anos, que vive no exílio há 50, primeiro no México e
depois nos Estados Unidos. Nesse período, ela nunca falou com os
irmãos.
A traição está entre os capítulos mais sombrios - e
saborosos - da História ocidental. A própria Bíblia cita vários casos,
nenhum tão peculiar quanto aquele em família. Primogênito de Adão e Eva,
Caim ficou enciumado da predileção de Deus por seu irmão caçula. Levou
Abel para um campo deserto, onde o matou.
À traição, subentende-se.
"Agora és maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber
de tua mão o sangue de teu irmão", ordenou Javé ao assassino. "Na
cultura do Ocidente não existe delito mais grave que o de defraudar a
confiança adquirida", afirma José Manuel Lechado, em Traidores que
Cambiaron La Historia ("Traidores que mudaram a História", inédito no
Brasil).
Mas, sob perspectivas distintas, certos personagens desleais
podem até ser heróis. "Na visão dos ingleses, George Washington
(protagonista da independência americana) foi um grande traidor", diz
Lechado. Seja bem-vindo à narrativa dos atos sorrateiros. E cuidado com
quem está às suas costas. Já diz o ditado: "Deus me livre dos amigos,
porque os inimigos eu sei quem são". ➽
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