quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Pabllo analisa Amor de Quenga: "A maioria dos homens não está preparada"


Pabllo fala sobre relacionamentos e carreiraImagem: Divulgação

Ana Bardella
De Universa

Pabllo Vittar não vê a hora de voltar à rotina: depois de ter shows cancelados e participações em festivais adiadas, a cantora — como muitos brasileiros — só pensa na vacina. Apesar da saudade do público, ela não deixou de tocar outros projetos ao longo da quarentena. Continuou com publicidades, lives e, em dezembro, lançou a música e o clipe "Modo Turbo", em parceria com Luísa Sonza e Anitta (com quem se reconciliou recentemente), que bateu recordes de streaming.

Mas nem tudo é trabalho: um ano após o lançamento da música "Amor de Que", ela fala sobre amor e segue achando que a maior parte dos homens não está preparada para aceitar uma relação de sexo casual, como diz a letra. Justamente por isso, se coloca como defensora do das relações livres — apesar de intimamente, também acreditar que é possível ser TQ+: 'As pessoas têm que respeitar a diferença'

Em entrevista à Universa promovida pelo projeto Ibis Music We Are Open, do qual Pabllo foi embaixadora, a cantora fala sobre diversidade, relacionamentos e sociedade. Confira:

Quando o assunto é diversidade, você foi uma das pioneiras na música brasileira. O que ainda falta para que a arte, como um todo, seja mais plural no país?

Acho que o principal é abrirmos nossos olhos e ouvidos para que os artistas LGBTQIA+ sejam valorizados. Muitas vezes, trabalhos incríveis estão a um clique de nós. É só procurarmos saber e investirmos um pouco do nosso tempo para isso. Meu desejo é que esse espaço cresça cada vez mais.

Por esse motivo, sempre que posso, chamo amigos independentes da música para participarem dos meus trabalhos e aceito convites de projetos que tenham a ver com a diversidade, como é o caso do Ibis Music, que aconteceu com a curadoria da Sony Music e do Spotify. Os resultados são incríveis quando criamos oportunidades para estes artistas se expressarem, seja na música ou em outras artes.

Quais nomes LGBTQIA+ você tem mais escutado no momento?

São tantas! Tem a Linn da Quebrada, maravilhosa, a Ventura Profana, a Urias. Além das minhas amigas drags, como a Glória Groove... Tem um monte de gente incrível.

Ao mesmo tempo em que você representa muita gente, também é alvo de muito ódio. Como é lidar com esses extremos?

Grandes poderes vêm com grandes responsabilidades. Hoje em dia isso é, para mim, uma coisa muito natural. Costumo pensar que essa galera que joga hate na verdade meio que trabalha para mim. Estão sempre gastando o próprio tempo, investindo parte dele comigo, então de alguma forma é um carinho. Só faltam ir a um dos meus shows para virarem "Vittarlovers" de vez [risos]. Mas hoje lido de forma tranquila porque eu sei quem eu sou, o que eu faço, o que emano.


Pabllo garante que não se irrita mais com os haters: "É uma forma de carinho"Imagem: Divulgação

Seu nome está sempre relacionado a muitos boatos. Ao longo da sua carreira, qual foi a notícia falsa que te deixou mais indignada?

A fofoca rola solta! São muitas, mas me lembro de uma vez que disseram em um programa da TV aberta que eu tinha destratado um garçom, quando na verdade eu estava em um navio trabalhando, fazendo um show. Eu vi aquilo e não me segurei, fui falar um monte no Instagram. Nessa época eu ainda me importava com esse tipo de coisa. As pessoas conhecem meu jeito, eu fui logo dizendo: "Querida, vai lavar uma louça" [risos]. Só que aí pegaram essa resposta e usaram para outro programa. Ou seja, a coisa vira uma bola de neve. Hoje em dia eu acho chato, mas não me estresso.

E as páginas de Instagram que são só de fofoca, te irritam?

Qualquer pessoa pode abrir uma conta no Instagram, colocar lá "Fuxico da Fulana" e passar o dia inteiro falando de você. O que der mais like, mais compartilhamento é o caminho que essas pessoas seguem. Se vai machucar, ferir a integridade física ou moral de alguém? Não importa, não estão nem aí. Só acho que tinham que ser mais responsáveis com o que jogam na internet.


Pabllo considera que a maior parte dos homens não está preparada para o amor livreImagem: Divulgação

Sobre amor de quenga: você acha que os homens estão preparados para essa conversa do sexo casual?

Acho que não. Existe, claro, uma pequena parcela que super abraça essa ideia, até porque cada um vive um momento. Eu, por exemplo, não vou mentir: acredito sim no amor monogâmico. Mas também acredito demais no amor plural e sou defensora dele. Quando tudo está conversado, não tem babado. Mas a maioria dos homens não está preparada. Se você chegar para um boy e falar: "Quero ficar contigo, mas ao mesmo tempo também posso ficar com outros"... Não preciso nem completar, a gente sabe.

Isso tem a ver com o machismo?

Com toda certeza, tem a ver com o patriarcado estruturado nessa coisa de que precisamos namorar, casar, de que a menina tem que ser virgem, da ideia de que não pode isso ou aquilo. Quando vem uma ruptura desse tamanho e diz: "Eu sou livre, eu beijo quem eu quero, sou dona dos meus atos e dos meus desejos"... Amor, a família tradicional estremece.

Sabemos que relacionamentos abusivos não são exclusividade heterossexual. Você já passou por uma situação do tipo?

Realmente não é uma realidade só hétero, tenho vários amigos que já passaram por isso. Eu só tive um namorado na vida: fui corna, levei um chifrão, mas era tudo de bom. A gente só separou porque ele não prestava mesmo [risos]. Enfim, Deus sabe o que faz. Mas já presenciei desentendimentos entre casais de amigos e sei que em briga de casal, a gente tem que meter a colher sim. O Brasil é detentor de um índice recorde de mortes de travestis e transexuais no mundo, então o cenário é muito mais triste do que a gente pensa.

De qualquer forma, acho importante falarmos desse assunto, ainda mais nesse período em que as pessoas não estão podendo sair. A gente não sabe como está aquela prima que mora com o namorado ou que é casada, e que todo mundo sabe que o relacionamento não é saudável. Procurem saber como estão as amigas de vocês, os parentes que moram mais afastados, isolados. Somos nós por nós.

Por ser uma figura pública, você sente algum tipo de cobrança estética?

Nunca sofri, pelo menos não dos meus fãs. Ninguém nunca me recriminou pelo meu corpo estar assim ou assado. Mas, para ser sincera, nunca parei para pensar nisso. Comecei a malhar, por exemplo, em 2016, depois de ter uma pneumonia. Naquela época, minhas músicas estouraram e tive que fazer shows no Brasil inteiro, porém eu fumava e era sedentária. Fiquei uma semana de cama, tomando remédios. Tive que mudar totalmente minha rotina desregrada e a alimentação. Eu amava mais estar no palco do que com um cigarro na mão, então mudei.


Desde essa época eu malho em casa. Inclusive, a malhação foi uma das minhas válvulas de escape na quarentena, no período em que tudo fechou. Eu que sou ativa, pulo muito, fazia muitos shows, fiquei doida. Então quando me perguntam sobre esse assunto, costumo dizer que as pessoas têm que fazer o que é bom para a saúde delas. Não é uma competição: quem é A, B ou C. Você tem que se voltar para a sua saúde. Porque, baby, depois que a gente morre, ninguém lembra mais se era gorda, magra, se tinha cabelo azul ou preto. Seja feliz enquanto você é viva, viva a vida do jeito que você quer. E cuide do seu corpo. A gente tem que ser grata ao corpo, pensar em melhorar a cada dia.

Onde a Pabllo Vittar, que "já foi longe demais", ainda quer chegar?

Essa pandemia me deu um "stop". Eu tinha tantas viagens programadas que não pude fazer. Lugares que a pandemia me roubou. Quer dizer, na verdade ela só me pausou. Sabe aquela música da Inês Brasil sobre a vacina? [risos]. Eu quero fazer muita coisa ainda, fazer shows, gravar clipes em outros lugares, conhecer outras culturas, levar o forró para outros países. Eu quero rodar igual "beyblade".
Fonte: universal