segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Síndrome de Peter Pan, quando o adulto quer ser criança para sempre


Imagem do blog Psicologia dos psicólogos



O Filho Peter Pan

Todos conhecem a estória de Peter Pan, o menino que não queria crescer, pois bem, existem muitos adultos que se recusam a crescer, o que lhes causa diversos problemas e sofrimento, a eles próprios e também às pessoas ao seu redor.

Geralmente quem tem o transtorno da Síndrome de Peter Pan têm pais problemáticos e/ou super protetores. São aqueles pais que veem seus filhos como eternas crianças, mesmo que os mesmos tenham 20, 30 ou 40 anos.

Muitos pais por terem tido infâncias problemáticas, seja por maus tratos ou necessidades financeiras tendem a superproteger os filhos, e dando a eles "tudo o que não tiveram na infância", até aí tudo bem desde que sem exageros, devem lhes dar tudo do que for NECESSÁRIO, e não satisfazer todos os desejos dos filhos. Proteger e dar carinho são fundamentais, mas sem esquecer que até água em excesso pode matar.

Vamos voltar ao Peter Pan, Peter não queria crescer e se tornar adulto porque ser adulto é chato. Ter responsabilidades, limites, cumprir tarefas e seguir regras é chato, e principalmente trabalhar é chato.

Trabalhar é chato mesmo, pegar transporte e cumprir horário todo dia faça chuva ou faça sol, aguentar aquele chefe chato que fica te fiscalizando, te dando ordens, e implica se você fica jogando no computador, batendo papo nas redes sociais, falando no celular, ou vendo aquele filminho pornô durante o expediente. Só porque a empresa te paga um salário, não quer dizer que o chefe pode mandar em você, não é mesmo?

Mas continuando, o filho Peter Pan não gosta de se esforçar para conseguir alguma coisa, pois está costumado a ter tudo na mão, não quer emprego e não gosta de trabalhar, foge do trabalho como o diabo foge da cruz, o emprego que aparece NUNCA está à sua altura, ou é um serviço humilde, portanto indigno do príncipe da mamãe, ou a empresa paga mal para a capacidade extraordinária do reizinho, que apesar de provavelmente nunca ter trabalhado e não ter nenhuma experiência profissional, merece começar já por cima com um salário digno do alecrim dourado que nasceu sem ser cultivado.

O trabalho é chato mesmo, mas dá independência emocional e financeira, segurança, autoestima e te faz mais forte perante as inevitáveis dificuldades da vida. Isso sem contar que hoje está cada vez mais difícil se aposentar, quanto mais velho você entra no mercado de trabalho, mas longe fica da sua aposentadoria.

O homem a partir de 2035 terá que ter 105 pontos (idade mais tempo de contribuição) para ter aposentadoria integral pelo INSS, sendo assim, começando a trabalhar hoje, se quiser ter aposentadoria integral aos 65 anos, terá que começar a trabalhar no mínimo aos 25 anos de idade, isso se trabalhar durante 40 anos sem interrupção, se for demitido durante este período o tempo desempregado (sem contribuição) não conta. Então quanto mais cedo começar a trabalhar melhor.

Mas supondo que sua alteza se digne a aceitar um emprego modesto, porém digno e honrado, o príncipe não fica no emprego por muito tempo, uma característica do filho Peter Pan quando resolve trabalhar é nunca ficar muito tempo no mesmo emprego, pois tem de lidar com a "inveja" dos colegas de trabalho que não suportam a sua incrível competência e eficiência, e ainda por cima tem de lidar com o chefe que vive lhe dando ordens, uma audácia inaceitável do sujeito, já que o reizinho é muito mais "competente" que o chefe. Assim o príncipe fica pulando de emprego em emprego, mas isso não o preocupa, pois sabe que sempre terá a casa dos pais para morar e terá sempre quem o sustente.

Os pais por sua vez tem uma visão distorcida do filho, e vê o adulto formado na sua frente como se fosse uma criança precisando de proteção, em um mundo cruel que não o compreende e não reconhece suas qualidades. Os pais vivem em negação, não enxergam nada mesmo que a vida esfregue a realidade a todo o momento em seus narizes, assim, os pais não veem que aquele homem ou aquela mulher na sua frente são adultos problemáticos, em vez disso enxergam uma frágil e indefesa criança precisando de proteção.

Mas como nada é para sempre, chega uma hora em que a realidade se impõe, algum acontecimento desperta os pais da ilusão, o pai geralmente é o primeiro a ver a realidade (as mães, com seu alto instinto protetor costumam demorar a enxergar e algumas nem conseguem), de repente eles veem na sua frente não mais uma criança precisando de proteção e sim um adulto fraco, dependente, manipulador e ao mesmo tempo manipulável.

É claro que os pais levam um choque, eles estão de repente, como num passe de mágica, diante de um adulto desconhecido, e a criança que eles amavam não existe mais é como se estivesse morta, então vem o sofrimento e o luto. Junto com o luto vem à decepção, a tristeza, a culpa e o sentimento de impotência.

Os pais entram em luto porque aquela criança que eles amavam não existe mais, a decepção é porque sentiam orgulho da imagem falsa que tinham, a tristeza é por perceberem que se iludiram por tanto tempo e que a fantasia não era real, eles sabem que o filho inevitavelmente vai sofrer por ser um adulto imaturo e despreparado para a vida, sentem culpa porque sabem que falharam na educação do filho, e o sentimento de impotência é porque sabem que formar a personalidade de uma criança de 8 ou 10 anos é muito mais fácil do que corrigir um adulto de 20, 30 ou até 40 anos.

Se já é difícil educar uma criança, imaginem impor limites, obrigações e responsabilidades a um adulto, mesmo que este adulto seja uma pessoa dependente dos pais e sem nenhum senso de responsabilidade. Formar filhos imaturos e dependentes, além do sofrimento inevitável, costuma resultar em consequências muito tristes, que podem levar ate mesmo a desfechos de violência familiares até mesmo fatais, as manchetes de jornais não raramente mostram esta realidade.

Tenho um filho Peter Pan adulto, e agora o que fazer?

Não é fácil, na guerra quando em situação desesperadora em meio a uma batalha, e quando os soldados sabem que a luta é pela sobrevivência, então a solução do General experiente é queimar as pontes da retaguarda.

Sem ter a opção de fugir, e sem ter outra alternativa a não ser lutar por sua vida, cada homem luta por dois, luta bravamente e sem medo, pois sabe que sua vida está em jogo. Então em uma situação muito difícil, além de procurar ajuda de um psicólogo, a solução para os pais de filhos Peter Pan é "queimar a ponte", e mostrar para o filho que se algum dia ele quiser voltar ao ninho, as coisas não serão mais como antes, ele será recebido, mas terá que procurar um trabalho e enquanto isso terá tarefas, serviços e responsabilidades em casa enquanto morar e depender dos pais, pois a vida de príncipe se foi para sempre com a infância, pelo menos nesta encarnação.

O bom pai (sabendo que vai morrer algum dia), não dá o que o filho quer e sim o que o filho precisa, não só para a sobrevivência física, mas principalmente para que ele tenha condições de caminhar com segurança com suas próprias pernas e voar com as suas próprias asas quando estiver só neste mundo, não é meritocracia, é lição de sobrevivência mesmo. 

Temos que aprender com a natureza, ela é sábia, quando as crias ficam adultas e não aprendem a sobreviver sozinhas, ou morrem de fome, ou viram comida de outros animais.

Esta lição de vida não é uma escolha, ou o filho aprende com os pais a ser independente, ou a vida ensina, e a vida costuma ser uma mestra severa e até cruel para com quem não aprende as lições.

André Resistência