MUITAS CONSTRUÇÕES FORAM AFETADAS COM A MARÉ ALTA, SEMANA PASSADA, NA ATALAIA NOVA, MAS OS DONOS NÃO DESISTEM
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Milton Alves Júnior
miltonalvesjunior@jornaldodiase.com.br
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Estudos meteorológicos indicam instabilidade climática em Sergipe até o próximo mês de outubro. Desde o início deste mês os municípios sergipanos localizados no litoral Norte e Sul têm se deparado com o fenômeno caracterizado Maré de Sizígia que causa avanço significativo do mar e consequentemente destruição de casas, estabelecimentos comerciais e obras públicas. Na Praia da Caueira, em Itaporanga d'Ajuda, três casas de veraneio já foram parcialmente destruídas, assim como parte do calçadão da orla; em Pirambu, proprietários de bares e restaurantes começam a contabilizar prejuízos e solicitam um apoio emergencial por parte da prefeitura. A meta é atribuir ações que possam, ao menos tentar, minimizar os efeitos da natureza até que reparos estruturais sejam atribuídos.
Situação caótica e preocupante também está sendo novamente vivenciada por moradores da Atalaia Nova que, desta vez, já pensam em reunir os poucos patrimônios que ainda sobram e mudar de lugar. Famílias que residem na região há mais de 30 anos lamentam que todos os anos a maré tem avançado na região, o que causa medo para a comunidade que se diz órfã de intervenções governamentais. Paralelo aos transtornos já causados ao longo dos últimos dias, a previsão é de mar cada vez mais agitado e avançando durante toda a próxima semana. A Maré de Sizígia, segundo análises históricas no Brasil, possui registro de agressividade natural até a primeira quinzena do mês de outubro. O que já gerava medo, passa a provocar pânico para milhares de sergipanos.
Depois de quatro dias de ampla destruição na região da Barra dos Coqueiros, o Jornal do Dia esteve no local mais atingido e conversou com populares e comerciantes. Ciente que deve já em curto prazo deixar a comunidade em que reside há 21 anos, a vendedora Antônia Bethânia Ramos destacou que se encontra emocionalmente abalada com o conjunto de aspectos ruins adquiridos ao longo dos últimos três anos, mas que está pensando na integridade física dos filhos e netos. "O mar está avançando, minha casa que tinha três quartos, um quintal e uma varanda agora só tem dois quartos e um quintal. O mar está avançando muito e temos medo de estar dormindo quando isso tudo aqui desabar. É melhor sair daqui chorando pra outra casa do que sair chorando para o cemitério para enterrar meu marido ou filhos", avaliou.
Num raio de 800 metros litorâneos, cerca de 17 casas já foram diretamente atingidas parcialmente pelo avanço da maré desde as populares águas de março, no ano de 2013. De lá pra cá a situação foi ainda pior para três casas e dois bares que foram integralmente invadidos pelas águas do Rio Sergipe, onde não suportaram a violência das águas e desabaram. Três pessoas ficaram parcialmente feridas. Entre estas vítimas estava o pescador e comerciante Almir Pereira dos Santos que disse ter adentrado a uma destas residências prejudicadas a fim de salvar duas crianças que brincavam no interior do imóvel. A atuação heroica do morador foi essencial para evitar tragédias, mas serviu de orientação para também mudar de casa junto a respectiva família.
"Já fiz serviço de pedreiro e quando estava ajeitando minha rede de pesca ouvi um barulho forte de paredes e telhados trincando. Eu já sabia que o mar estava avançando e que outras casas já tinham desabado no mesmo mês. Corri para a casa e depois que tirei as crianças parte do telhado caiu sobre minha perna. Hoje quem sofre com essa situação sou eu. Minha casa tinha uns 20 metros de distância do mar, hoje não tem nem cinco e por isso já estamos preparando a nossa saída. É difícil, mas vamos conseguir", lamentou. O esperado pra esta semana é que a altura das marés chegue até 2.600 metros no litoral sergipano. Fora deste período, a altura das marés mantém uma média de 1.700 metros.
Caueira - Pela terceira vez em menos de um ano comerciantes e proprietários de casas de veraneio estão encontrando dificuldades para barrar os efeitos da maré alta. Nesta semana que se encerra hoje, mais uma vez a violência das ondas foi suficiente para destruir barreiras feitas de concreto que há menos de 100 dias já haviam sido reconstruídas por um grupo de moradores. Por telefone o Jornal do Dia conversou com o empresário Walteno Marques, que disse já ter investido mais de 20 mil reais só em construção de barreiras de concreto. Além de pedras, cimentos e areia apropriada, vergalhões de ferro, madeira, sacos de areia de praia e troncos de árvores já foram utilizados na esperança de manter o patrimônio utilizado para lazer familiar.
"Se for contabilizar o prejuízo que nós temos aqui com esse mar avançando cada vez mais, pode ter certeza que já passa da casa dos 100 mil reais. Só de obra e reformas foram uns 20 mil, mas a casa vem sendo desvalorizada e ninguém quer pagar o valor que ela valia até no início do ano passado. Assim fica difícil até para mudar de casa. Vou perder muito dinheiro na minha casa e vou ter que gastar muito para construir ou comprar a casa de outra pessoa. O jeito é esperar que esses avanços sejam cessados e nos ajude a aliviar as preocupações", destacou.
Apesar do desejo exposto por Walteno, o coordenador do centro de meteorologia de Sergipe, Overland Amaral, afirma que as perspectivas, em especial para os próximos cinco dias, não são favoráveis para quem almeja retrocessos da maré. "Nos períodos de transição das estações climáticas as marés altas se tornam mais evidentes por conta do alinhamento entre a terra, o sol e a lua", explica. "Até a próxima semana as ondas podem atingir até três metros", informou Overland. Diante da situação preocupante, equipes de plantão do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), e Defesa Civil estão atentos para qualquer sinistro a ocorrer em um dos três municípios citados nesta matéria.
Fonte: http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=17686