Depois de muita luta para ensinar a (alguns) homens onde fica o clitóris e encarar o prazer no sexo como um direito, as mulheres que chegaram a um novo patamar na relação com sua própria sexualidade — um patamar de mais naturalidade, digamos assim — enfrentam agora uma nova pressão: a obrigação do orgasmo.
No tinha pensado nisso antes? Pois o CAOScast, podcast distribuído semanalmente aqui pelo TAB, te ajuda a fritar as ideias em mais uma bucha que o patriarcado resolveu colocar no nosso colo. Dê o play no vídeo abaixo para escutar o episódio!
"Eu sou mega defensor de que todas as mulheres gozem, e gozem quantas vezes queiram, mas quem não goza e não está tendo problema com isso não pode começar a achar que está tendo um problema só porque está todo mundo gozando e indo na oficina [de masturbação]", opina o antropólogo Michel Alcoforado, apresentador do podcast e colunista de TAB. "É quase novamente o mundo dizendo para as mulheres o que as mulheres têm que fazer com o corpo delas. Antes você tinha que manter seu corpo perfeito para conseguir manter o desejo do seu marido em alta, e agora você precisa quase fazer uma tabelinha para ver quantas vezes você gozou na última semana", avalia ele (ouça a partir de 36:50).
Será que a proliferação dos cursos de masturbação e dos brinquedos sexuais que prometem prazer indescritível, o orgasmo feminino transmitido integralmente na série Goop, da Netflix, e até os espaços mais acolhedores nas redes sociais para falar sobre sexo não estão criando essa nova necessidade nas mulheres?
Segundo uma pesquisa realizada pela Trop.Soledad, 42% das mulheres na América Latina já compraram produtos de sex shop, contra 32% dos homens. Se à primeira vista isso pode parecer empoderamento da parte delas — e até pode sim ser reflexo disso — uma pequena problematizada nos faz questionar: será que isso não indica que elas continuam se sentindo responsáveis por apimentar a relação e trazer algo diferente em relacionamentos heterossexuais? "O território do sexo como uma coisa lúdica é muito mais da mulher do que do homem. Homem não pode variar muito, que bobeou um pouquinho para o lado, opa!", brinca a pesquisadora Rebeca de Moraes, em alusão à insegurança de muitos com a experimentação de seus corpos (a partir de 34:40).
Para evitar cair na "ditadura do orgasmo", a saída pode ser exatamente a nova tendência estudada pelos caóticos no episódio: a sexestima. A busca por autoconhecimento e novas formas de canalizar o desejo sexual, além das velhas conhecidas que vêm carregadas com uma dose de heteronormatividade e olhar masculino podem abrir novos horizontes.
"Essa tendência traz uma ampliação das possibilidades de prazer, que vão além dessa coisa de transar efetivamente, ficar sozinha e se masturbar. Coloca o desejo em outros lugares. É isso, eu posso ficar muito feliz conversando com minhas amigas, tendo momentos ótimos, fazendo meus hobbies, e não quero transar. Mas que isso seja uma escolha, não uma imposição", avalia Moraes (a partir de 37:23).
Quer entender tudo sobre onde vem a sexestima, quais as promessas dessa nova onda e a problematização sobre ela? É só ouvir o episódio completo do CAOScast acima.
Fonte: UOL