Barra dos Coqueiros é uma cidade rica, e muitos moradores vivem do Programa Bolsa Família do Governo federal e do Programa Comida na Messa da prefeitura municipal. Uma verdadeira vergonha!
Depois de muitos anos vivendo na Barra dos Coqueiros, na pequena cidade da Região Metropolitana, uma das coisas que vem destruindo a beleza natural da cidade é a grande quantidade de prédios tomando conta da paisagem urbana de forma descontrolada e desrespeitando o Plano Diretor do município.
A Barra dos Coqueiros em que cresci nas décadas de 1980 e 1990 era uma cidade relativamente pacata, onde predominavam as casas térreas ou principalmente nos povoados. Eu mesmo vivi com meus pais em uma casa de Taipa, em uma rua até então pouco movimentada na qual costumávamos jogar futebol e andar de carrinho de rolimã e etc e tal.
Em 2019, segundo dados cadastrais do IPTU, o número de unidades residenciais em condomínios superou pela primeira vez o total de casas residenciais. Mantida a tendência dos últimos anos, a expectativa é que até 2030 a quantidade de residências em prédios supere a de casas (térreas em toda a cidade, principalmente nos povoados.
Ao mesmo tempo em que se verticaliza, o preço médio dos imóveis em Barra dos Coqueiros cresce mais do que em outras cidades da Grande Aracaju como Nossa Senhora do Socorro e São Cristovão, conforme mostra pesquisa dados do IBGE com um crescimento populacional absurdo.
Estariam por trás do aumento dos preços dos imóveis em Barra dos Coqueiros o rápido processo de verticalização e a famigerada “especulação imobiliária”?
Ao contrário do que muitos costumam dizer, “especulação imobiliária” nada tem a ver com a construção de edifícios no lugar de antigas casas. Levantar prédios, por sinal, é exatamente o oposto de “especular”: os novos imóveis, afinal, representam investimentos em novas unidades habitacionais e maior oferta de moradia. E que não pode deixar acontecer e o caos na mobilidade urbana no município e a ocupação de áreas de proteção ambiental, apenas para a especulação imobiliária.
“Especular” com imóveis, na verdade, é manter terrenos, casas e prédios ociosos, sem moradores – deixando, portanto, de cumprir a função social da propriedade prevista na Constituição –, na expectativa de uma valorização futura. Apesar do processo de rápida verticalização em curso, Barra dos Coqueiros ainda conta com áreas ociosas, particularmente na região central, onde há imóveis vazios e terrenos que não foram devidamente reocupados.
Segundo o IBGE, a população de Barra dos Coqueiros, já tem uma estimativa na população de mais de 41 mil habitantes em 2024. Na última década, a população de Barra dos Coqueiros cresceu relativamente mais do que a média da Região Metropolitana.
Explicam esse aumento populacional, entre outros fatores, o crescimento econômico da cidade nos últimos anos – entre 2002 e 2023, Barra dos Coqueiros, está entre as economia mais rica de Sergipe. Com uma localização privilegiada, com fácil acesso a capital, Barra dos Coqueiros está mais próxima do centro financeiro do estado, por exemplo, do que muitos bairros da própria capital.
Esses fatores, somados a mudanças nas configurações dos domicílios (mais pessoas vivendo sozinhas, por exemplo), resultaram em uma maior demanda por moradia. E a única forma de uma cidade crescer para atender essa demanda – ainda mais no caso de uma cidade cujo território é relativamente pequeno, como Barra dos Coqueiros (apenas 89 mil km²) – é construir mais, “para cima”, de preferência nas proximidades dos eixos de transporte público, o que tende a diminuir os custos relacionados a mobilidade, infraestrutura e meio-ambiente.
Se a oferta de imóveis, contudo, não consegue acompanhar a crescente demanda, os preços sobem, conforme temos observado na cidade. O aumento dos preços, portanto, não está relacionado à verticalização da cidade, mas sim ao fato de que a oferta de novas moradias não parece estar dando conta da demanda. Barra dos Coqueiros, na verdade, ainda parece ter prédios de menos, e não demais.
No mais, se hoje não é mais possível jogar bola na rua ou andar de carrinho de rolimã, como eu fazia na infância quando morava na cidade, a culpa não é exatamente dos novos prédios, mas, principalmente, dos carros que tomaram conta das nossas ruas, deixando-as cada vez mais perigosas para as crianças.
Se as pessoas estão menos nas ruas, por sua vez, a culpa também não é exatamente dos prédios, mas do tipo de prédio que vem sendo construído nos últimos anos, com muros elevados que prejudicam a vida nas calçadas; ou sem comércio no térreo, exigindo dos moradores o uso do automóvel para a realização das atividades mais corriqueiras; ou no formato condomínio-clube, que altera as formas de socialização e a relação das pessoas com a cidade.
Especulação imobiliária, por fim, nada tem a ver com construir prédios e mais prédios, mas, sim, com manter terrenos e imóveis ociosos ou mal ocupados em áreas centrais da cidade, ricas em empregos, serviços e infraestrutura – áreas estas que, se bem ocupadas, podem colaborar para maior oferta de moradia, maior vitalidade urbana e menor crescimento dos preços dos imóveis na região.
(*) Os números do cadastro do IPTU divergem das informações recentemente divulgadas pelo IBGE, segundo as quais, considerando os domicílios particulares permanentemente ocupados, quantas casas e quantos apartamentos tem na Barra dos Coqueiros?