Fragilizado com tantas denúncias, estrelas do partido aproveitaram a festa em Belo Horizonte para pregar a união
Em vez da autocrítica sobre os desvios, o alto
comando do PT decidiu transformar a festa dos 35 anos do partido,
comemorado nesta sexta-feira (6) em Belo Horizonte, numa denúncia de
conspiração sobre um suposto golpe que ganhou curso com a reeleição da
presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
anteviu o ambiente que começa a ser construído, com uma frase
emblemática: “Se ficarmos quietos, a sentença já está dada”,
afirmou Lula no debate interno reservado, segundo relato a jornalistas
por assessores que participaram da reunião.
A declaração do
ex-presidente é uma alusão sutil que cabe a dois cenários: um eventual
processo de impeachment contra Dilma via CPI da Petrobras cujo ambiente
começa a ser estimulado no Congresso e, numa outra linha, ao julgamento
que certamente ocorrerá no Supremo Tribunal Federal (STF) contra
parlamentares e dirigentes do partido envolvidos com propina desviada da
estatal. Para Lula, o julgamento que mandou para a cadeia a antiga
cúpula do PT foi político e pode se repetir.
O
ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, foi direto ao ponto e
diagnosticou um golpe em construção para derrubar Dilma através de um
movimento parecido com o que tirou do poder o ex-presidente do Paraguai,
Fernando Lugo. “Molde Paraguai. Esse é o movimento em curso”, escreveu
Tarso em sua conta no Twitter, de dentro da reunião, em Belo Horizonte,
onde os petistas fizeram a avaliação do cenário. Na versão de Tarso, o
risco de um golpe parlamentar teria o apoio de parceiros da base aliada:
“O governo tem de falar. E forte. Está em marcha
golpismo político para bloquear a governabilidade da presidenta. Parte
da base aliada compartilha”, escreveu Genro.
Frente
Se
o PT acusa o golpe, a oposição também perdeu os escrúpulos e já não faz
mais segredo do movimento conspiratório - baseado nas denúncias de
envolvimento do principal partido governista com os desvios na Petrobras
- que já tem até um parecer, elaborado pelo jurista Ives Gandra
Martins - a pedido de um advogado ligado ao ex-presidente Fenando
Henrique Cardoso -, respaldando uma possível tentativa de impedimento da
presidente da República. A alegação é de omissão e negligência do
governo diante da sangria na estatal para financiar os partidos da base
aliada do governo.
Ao exortar a militância do partido na reunião
desta sexta-feira, Lula colocou apenas mais um ingrediente na
resistência preventiva que colocou em curso há duas semanas, quando
reuniu-se - depois de muitos anos - com os dirigentes nacionais do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O MST, como se sabe, é o
mais barulhento movimento social e, entre eles, o que mais estrutura tem
para defender nas ruas a manutenção do mandato de Dilma.
“A briga
é política. O PT deve ter consciência. Tem de usar a tribuna, tem de
responder, tem de votar, tem de gritar tanto quanto eles, tanto na
Câmara quanto no Senado. (...) O PT vai ter que voltar pra luta”,
afirmou Lula.
É um sintoma de que a estrela petista sabe até onde
pode chegar a Operação Lava Jato e a CPI instalada na Câmara, para a
qual contribuíram 52 deputados da base aliada, entre os quais o PDT
compareceu com 15 parlamentares, PSD com 12, e o PMDB, 10 na cota de
traições ao governo. Além do vice-presidente da República, PMDB, com as
presidências da Câmara e Senado, tem o domínio da linha sucessória.
A
possibilidade de ter o controle da CPI, evitando que a oposição consiga
um elo com as investigações da Lava Jato, é uma incerteza
com precedência na CPI que, em 1992, derrubou o ex-presidente Fernando
Collor. Na época Collor conseguiu emplacar a presidência e a relatoria
da CPI que investigou o empresário Paulo Cesar Farias, o PC, mas acabou
perdendo o controle com a descoberta do forte esquema de corrupção.
Especialista
no assunto, o PT quer influir na pauta pela pressão das ruas. Na festa
desta sexta-feira, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, dedicou
um grande espaço do discurso para recolocar na agenda as mudanças,
entre elas a reforma agrária, um atrativo cujo endereço é o apoio dos
movimentos sociais que lutam por terra.
Depois, Falcão emendou com
um apelo pela formação de uma frente que reúna os partidos de esquerda,
sindicatos e movimentos sociais para defender o governo de
conspiração que, segundoinsinua, envolve também os grandes veículos de
comunicação.
“Urge conter a ofensiva dos conservadores e da
direita”, disse Falcão, pregando a formação de uma “frente progressista”
que tire o PT das cordas na onda de denúncias de corrupção. “Repito com
mais ênfase: a constituição de uma frente de partidos e movimentos
(...) para romper a defensiva política, alterar a correlação de forças e
reassumir a iniciativa”, ressaltou o dirigente petista.
Alisando o pelo
Nem
tudo foi festa no aniversário de 35 anos. O PT gaúcho, que teve sua
fracassada campanha do ano passado fortemente afetada pelas denúncias de
corrupção envolvendo a cúpula nacional, fez um contraponto interno.
Enquanto Tarso Genro voltou a falar em refundação do partido - proposta
que já havia feito na crise do mensalão -, o ex-governador Olívio
Dutra defendeu, em entrevista ao jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, o
afastamento de Vaccari, afirmando que PT não aprendeu nada com as lições
do mensalão e acabou caindo na “vala comum” de outros partidos que se
renderam a corrupção como fonte de financiamento.
“O partido tem
de demonstrar claramente isso e não ficar tergiversando, desconversando e
às vezes até alisando os pelos de quem está - se não envolvido de
imediato - com elementos seríssimos de que participou ou participa de
esquemas que privatizam o Estado por dentro”, disse Olívio. “Caímos na
vala comum por essas atitudes de figuras não só como essa como de
outros. Então não é uma coisa isolada. Infelizmente, estamos imitando
outros partidos. Tem de assumir que elas foram erradas, criminosas e o
partido tem de retomar a sua conduta”, cutucou o ex-governador.
Dutra
comparou a condescendência com os desvios a uma ferrugem “que vem
contaminando as engrenagens do partido” e se alastrando pela falta de
providências. O ex-governador disse que o PT deve reconhecer que figuras
importantes do partido cometeram atos totalmente contrários aos
princípios que nortearam, há 35 anos, a fundação do partido.
Ao
discursar no encerramento da festa do PT, Dilma fez questão frisar que
vai manter, sem transigir, o compromisso com a lisura e com o combate
aos malfeitos, com liberdade e independência dos órgãos de investigação.
Repetindo o bordão de Lula, afirmou que ao final de seu governo poderá
dizer que “nunca antes na história desse país se combateu com tanta
firmeza a corrupção e a impunidade”.
A presidente lembrou que
legislação que facilita a punição de corruptos foi construída entre 2003
e 2015. “Não caiu do céu”, afirmou, garantindo que tudo será apurado
“com rigor” e que serão criados mecanismos para evitar que a corrupção
se repita na Petrobras. “Se houve erros, aqueles que erraram paguem por
eles”, disse.
Lula, que antecedeu Dilma nos discursos, voltou
a defender o tesoureiro do partido, se disse indignado com a condução
coercitiva de Vaccari e afirmou que era mais simples a PF tê-lo
convidado a depor do que o apanhado em casa. O ex-presidente acusou a
imprensa de repetir, desde a chegada do PT ao poder, um ritual
semanal de desconstrução e criminalização do partido. “Não é o critério
da informação. É o critério da criminalização”, disse Lula, ao acusar as
revistas e os jornais de construir uma narrativa em cima de versões.
O
governador de Minas, Fernando Pimentel disse que o PT saberá,
humildemente, corrigir seus erros, mas enfatizou que a onda de “caça às
bruxas”, patrocinada pela oposição, mira o retrocesso e a volta da
ditadura. “Não aceitaremos”, ressaltou ao discursar à noite no
encerramento da festa petista.
FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2015-02-07/pt-usa-festa-para-acusar-golpe-em-curso-contra-dilma.html
FONTE: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2015-02-07/pt-usa-festa-para-acusar-golpe-em-curso-contra-dilma.html