O gol que deu a Portugal a vitória por 1 a 0 sobre a França e
o inédito título da Eurocopa rendeu a Éder, 28, muito mais do que o
pedaço de carne com que costumava ser premiado na adolescência.
Durante anos, foi essa a bonificação recebida pelo novo herói nacional português cada vez que ele balançava as redes.
O
acordo foi selado entre o atacante e o dono de um açougue, torcedor
fanático do ADC Adémia, clube da cidade de Coimba que Éder defendeu
entre os 12 e os 18 anos.
Para
o garoto Éderzito António Macedo Lopes, marcar gols era então a única
forma de garantir um prato cheio. Seu primeiro salário, de 400 euros
mensais (R$ 1.450, na cotação atual), só foi conquistado depois de
deixar o time em que foi formado.
Nascido em Guiné-Bissau, o
atacante chegou em Portugal aos três anos, mas foi deixado por seus pais
em uma instituição semelhante a um orfanato, que cuidava de crianças de
famílias pobres.
No Lar Girassol, onde cresceu, Éder acumulou
castigos (normalmente ficar sem televisão e ter de ir para a cama mais
cedo), normalmente por quebrar janelas com seus chutes nada certeiros
dadas no futebol com os outros meninos.
O jogador estreou na
primeira divisão portuguesa em 2008, jogando pela Académica de Coimbra.
Quatro anos depois, transferiu-se para o Braga.
Apesar de nunca
ter sido artilheiro de nenhuma competição importante e ter de uma média
de apenas sete gols por temporada, Éder chegou à seleção portuguesa em
2012, disputou a Copa do Mundo-2014 e acabou contratado pelo Swansea
City.
Na Premier League inglesa, viveu a pior fase de sua
carreira. Foram nove meses sem marcar um mísero gol até ser emprestado
ao Lille, em fevereiro, e garantir sua vaga na Eurocopa.
Contestado
pelos torcedores, foi preterido da equipe titular pelo técnico Fernando
Santos apesar de ser a única opção de área convocada por Portugal.
Antes da decisão da Euro, só havia tido 13 minutos em campo (seis contra
a Islândia e mais sete ante a Áustria).
Na final contra a França,
foi a opção de fim do jogo do treinador para dar alguma força ofensiva a
um time que sofria sem seu craque, Cristiano Ronaldo. Deu apenas dois
chutes. Um deles, o mais importante da história de Portugal.
“O
Éder é um rapaz extraordinário, não mereceu a forma como foi tratado”,
afirmou o zagueiro José Fonte, sobre o agora ídolo lusitano.
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