Mary Zaidan
Sem ter conseguido seduzir com o discurso do “golpe”, o PT – maior
derrotado nas urnas municipais — tateia em busca de motes para
reaglutinar a sua turma. Atira para todos os cantos e, com insistência e
determinação, atinge o próprio pé, gangrenando o pouco que restava da
biografia do partido e de seus líderes.
Pisam e repisam na tese delirante de conluio entre a elite e a mídia
monopolizada. Uma conspiração fantástica capaz de unir na mesma seara a
Lava-Jato e os endinheirados que agonizam atrás das grades para manter o
poder perpétuo do PT e dos seus. Agora, se fixam na demonização da
emenda constitucional que limita gastos públicos, aprovada na comissão
especial por ampla maioria – 23 x 7 –, com chances de ser decidida nesta
semana pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Apelidada pelo PT e o “campo de esquerda” como PEC da Morte, a emenda
ganhou versões tão fantasiosas na boca dessa trupe que chegam a ser
perigosas. Nas redes sociais, entre críticas engraçadas e mentiras
deslavadas, dizem até que o governo Michel Temer acabou com o 13º
salário e que na reforma previdenciária os “velhinhos” com menos de 70
anos terão seus benefícios suspensos.
A má-fé oficial não é menor do que a irresponsabilidade anônima ou de
perfis falsos e contratados para as redes sociais. Sobre a PEC do Teto,
por exemplo, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) disse que ela vai
aumentar o desemprego e a desigualdade social. “Vai piorar a saúde, a
educação, a assistência social e a segurança pública”. Patrus Ananias
(PT-MG) foi ainda mais enfático: “Os ricos ficarão mais ricos e os
pobres mais pobres”.
Além de brigar com a lógica de que não se pode gastar mais do que se
arrecada, a direção do PT, suas lideranças e admiradores fazem chacota
dos pobres que dizem defender. Empenham-se em raciocínios mirabolantes,
falseiam números, mentem.
Dados divulgados na quinta-feira informam que, ao contrário do que
propala Ananias, os pobres já estão cada vez mais pobres e os ricos mais
ricos.
Análises do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), feitas a
partir das declarações de IR de 2014, apontam que a renda do topo da
pirâmide cresceu 9% contra 2% dos que recebem até 5 salários mínimos.
Pior: ainda no primeiro mandato da presidente deposta Dilma Rousseff, os
que receberam até meio salário mínimo comprometeram 1,17% de seus
ganhos quase inexistentes com impostos, número escandalosamente maior do
que o dos que têm renda superior a 120 salários, que só pingaram 0,03%
na boca do Leão.
Os pobres, que na festa do consumo patrocinada pelo ex Lula e por sua
pupila parcelaram suas vidas em até 60 prestações, foram os que mais
sentiram na pele o tamanho do engodo. Batizados de nova classe média,
muitos deles estão sem emprego, na penúria. Respondem por inadimplência
crescente, hoje superior a 52%.
Na saúde, setor que segundo o deputado Fontana será arrasado com o
equilíbrio das contas, o país amarga crise sem precedentes. De 2010 a
2015, a oferta de leitos no SUS caiu 7,5%, de 50,1 mil para 48,4 mil –
1,6 mil leitos a menos, de acordo com o Conselho Federal de Medicina.
Sem emprego, salário e dinheiro no bolso, o brasileiro superlotou o
sistema público de saúde. O SUS, que já não conseguia dar conta da
demanda, herdou 1,6 milhão de pacientes que abandonaram os planos de
saúde complementar.
Cenário catastrófico se verificou também na educação. Com o
acirramento da crise econômica que a presidente deposta fermentou, ela
mesma se viu forçada a cortar R$ 10,5 bilhões – 10% da verba do MEC -,
enterrando o lema marqueteiro “Pátria educadora”. Na segurança pública,
a redução de investimentos foi constante, totalizando mais de R$ 20
bilhões em 13 anos.
Um legado diabólico, dificílimo de ser exorcizado.
Despidos moral e politicamente, flagrados com a mão na botija e
enricados com o dinheiro dos pobres que diziam defender, líderes da
sigla tentam, com palavrório, driblar a história. Mas quanto mais se
mexem mais se enterram. Os resultados do primeiro turno das eleições
municipais não deixam dúvidas.
(foto: arquivo/google)
Fonte: http://www.fabiocampana.com.br