sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A ciência explica por que pensar e fazer sexo é prazeroso

E mais: quais são as fantasias sexuais de homens e mulheres mais e menos recorrentes
Por Marcia Kedouk
(sirawit99/iStock)

Não adianta tentar explicar a diferença para o seu cérebro: imaginar uma cena equivale a fazê-la. A leitura de um romance erótico, por exemplo, ativa o lobo temporal esquerdo, envolvido no processamento das atividades motoras e sensoriais. Quanto mais intensa a imaginação, mais reações físicas e químicas.

Não é à toa que o livro Cinquenta Tons de Cinza levou muitas leitoras a buscar na vida real experiências como aquelas descritas na trama, que conta a história de um milionário dominador e uma jovem submissa. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas dos Mercados Erótico e Sensual, as vendas de acessórios sadomasoquistas para homens e mulheres cresceram 35% em 2012, quando o livro foi lançado. O sucesso motivou a criação de novas linhas de algemas, vendas, chicotes e lingeries de couro.

Cada um tem um jeito de se sentir excitado. Mas todos os caminhos passam pelo mesmo mecanismo: criar um ambiente emocionalmente seguro para deixar aflorar o tesão. Por isso, acredita o psicanalista americano Michael Bader, as fantasias são libertadoras.

Para uns, bom é fazer algo que pareça (ou seja) proibido ou que rompa com preceitos morais e culturais, com o aprendizado do que é certo e errado. Para outros, nada é melhor do que um homem fardado ou imaginar que é pego de surpresa numa situação cotidiana. Por exemplo, se você estivesse de molho no hospital e a enfermeira gata ou o doutor bonitão não resistisse aos seus encantos. Nem que fosse em pensamento, porque fantasias não precisam necessariamente da realidade para arrepiar os sentidos.

Segundo levantamento de uma loja online de produtos eróticos, a Loja do Prazer, as roupas mais vendidas são, nessa ordem, de enfermeira, colegial, empregada, comissária de bordo e noiva; policial, bombeiro, médico, marinheiro e soldado.

Mas o mundo das fantasias é ilimitado. Por isso, há quem encontre satisfação com estátuas, carros, balões de festa. Bizarro? O que é estranho para alguém certamente é normal para outro em alguma parte do planeta. Com a alimentação é assim. Cérebro de macaco é uma iguaria na África. Bunda de formiga tostada é um petisco delicioso para muitos índios e famílias caipiras do sudeste brasileiro. Quando temos prazer com alguém, uma experiência, uma posição, um ambiente, um objeto, queremos repetir a dose e ponto. Por menos convencional que o tal gosto seja.

Uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, investigou quais fantasias eram consideradas anormais ou atípicas e quais eram comuns, de acordo com a opinião de 1.517 adultos. Eles responderam a um questionário sobre hábitos na cama, ranquearam fantasias em uma escala de 0 (nada interessado) a 10 (fortemente interessado) e descreveram em detalhes a preferida.

Os resultados indicaram que homens fantasiam mais do que mulheres e relatam melhor suas taras. A ala feminina é mais inibida para entrar em detalhes e faz uma clara distinção entre fantasia e desejo. Uma porcentagem alta delas, de 30% a 60%, tem pensamentos libidinosos envolvendo submissão. Mas muitas ressaltaram que não gostariam que essa fantasia se concretizasse – é apenas uma imaginação, e não uma vontade real.

Elas costumam se imaginar fazendo sexo com o parceiro; eles, em casos extraconjugais. De acordo com a pontuação que receberam, as fantasias foram divididas entre raras (de zero a 2,3% de votos), incomuns (15,9% ou menos), típicas (mais de 84,1%) e comuns, que englobam o restante – e a maior parte – dos resultados.
Poder da mente

Pensamentos eróticos ou românticos ajudam, inclusive, na capacidade de resolução de problemas e no aumento da criatividade. Imaginar só sexo ativa apenas uma região cerebral, o centro de recompensa. É o que se chama de atividade focada, que favorece a atenção aos detalhes e traz benefícios nas horas em que é preciso encontrar soluções práticas para vencer dificuldades.

Quando você pensa em amor – por exemplo, em um jantar à luz de velas permeado por carinhos e olhares apaixonados –, as células fazem várias conexões diferentes, porque outras emoções e ações estão envolvidas. Montar mentalmente a cena completa treina regiões ligadas à criatividade e à visão global.

Cientistas de duas universidades holandesas e uma alemã verificaram a tese pedindo a 30 voluntários que imaginassem uma longa caminhada ao lado da pessoa amada. Outros 30 participantes deveriam pensar em sexo com alguém com quem não tivessem envolvimento. Em seguida, todos responderam a um teste. O grupo dos românticos se saiu melhor nas questões criativas do que nas analíticas e a turma do encontro casual pontuou bem nas analíticas e mal nas criativas.

Recorrer a vídeos eróticos também funciona como pimenta no arroz com feijão. O pornô mexe com a vida real por vários motivos. Um deles está relacionado aos neurônios-espelho, que imitam o que captam. Sabe quando a gente sente vontade de bocejar só de ver outra pessoa fazendo isso? Então, são os neurônios-espelho agindo. Quando alguém assiste a um filme erótico, pode se motivar a fazer mais sexo e a se despir das amarras na cama.

Geralmente, as mulheres preferem filmes que sugerem algum tipo de emoção. Homens gostam mais de cenas de anatomia explícita. O pesquisador americano Barry Komisaruk, da Universidade Rutgers, monitorou a atividade cerebral de voluntários e descobriu que, nelas, durante a excitação e o orgasmo, o córtex sensorial é a primeira região a ser estimulada. Essa área processa informações sensoriais relacionadas à empatia. Neles, é a visão.Vem daí a predisposição feminina para buscar nos vídeos algum enredo, para haver certa identificação. Como o cérebro masculino se delicia com as imagens, closes ginecológicos costumam dar conta do recado.

Uma pesquisa da PlayboyTV, marca que detém os canais Sextreme, Sexy Hot, Private, Playboy TV, Venus e For Man, mostrou que 46% dos telespectadores – homens e mulheres – consideram essencial que um filme erótico tenha uma boa história e 63% preferem cenas naturais a irreais. Atenta a isso, a indústria pornô está cada vez mais interessada em conquistar a atenção daqueles que não se excitam apenas com malabarismos genitais. Já deu para medir o resultado. Em 2010, as mulheres representavam 49% das assinaturas dos canais eróticos pagos. Em 2014, o número subiu para 54%, ou seja, a maioria dos telespectadores.

Ainda assim, há de se dizer que ereções, ejaculações e tamanhos são exagerados no mundo privê. Querer reproduzi-los fielmente é um caminho curto para frustrações. E frustração é sinônimo de esfriamento da libido. Para as mulheres, o efeito é ainda mais intenso. Um estudo das universidades da Califórnia e do Tennessee concluiu que quanto mais filmes desse tipo o marido ou namorado via, mais baixa era a autoestima da parceira.

Tem a ver com o que pesquisadores da Universidade de Denver verificaram depois de avaliar a rotina de 2.291 casais. Uma parte deles assistia a filmes eróticos com o parceiro. Outra via pornografia sozinha. Quem não era fã de pornô se sentia sexualmente mais satisfeito do que o restante. O grupo que via os filmes a dois tinha vida sexual mais ativa e era mais dedicado ao outro, mas o efeito colateral é que estavam mais dispostos a trair.

Até aqui, estamos falando de ler e ver cenas eróticas e do estímulo que isso pode dar à vida sexual. É diferente do vício em pornografia, que, como qualquer outro vício, faz as pessoas buscarem o prazer pelo prazer. É a descarga de dopamina que importa, e não as carícias, os beijos, os cheiros e gostos.

Nem precisa passar as noites perambulando de clique em clique para sentir prazer imediato em série. Curtidas e comentários no Facebook estimulam a mesma região cerebral acionada no sexo: o núcleo acumbens. Pesquisadores da Universidade Livre de Berlim detectaram uma atividade intensa nessa área, ligada ao centro de recompensa, quando os participantes recebiam comentários positivos nas mensagens postadas. Outro estudo, da Universidade Harvard, também encontrou relação entre o uso das redes sociais e o prazer que elas proporcionam. Falar sobre si mesmo induz a produção de dopamina de forma semelhante ao que ocorre na excitação sexual.

A proliferação de fontes de prazer e o livre acesso a elas – comida gordurosa, sites pornôs, curtidas em redes sociais – pode estar por trás da diminuição da quantidade de vezes que um casal faz sexo atualmente. Depois de avaliar a vida sexual de 15 mil adultos britânicos e comparar com estudos realizados nos anos 1990, pesquisadores da Universidade College London concluíram que o número mensal de relações caiu de cinco para três. Por isso, a psicologia adverte: a falta de sacanagem pode ser prejudicial à saúde do relacionamento.

No mundo da fantasia

Estudo da Universidade de Montreal mapeou as fantasias sexuais de homens e mulheres e indicou as mais e menos recorrentes.

Fantasia mulheres(M) homens (H)

Sentir emoções românticas no sexo 92% (M) 88% (H)

Fazer sexo oral 78% (M) 88% (H)

Transar em lugares inusitados 82% (M) 82% (H)

Fazer sexo em lugares românticos 85% (M) 78% (H)

Fazer sexo com alguém que eu conheça, mas que não é meu/minha parceiro(a) 66%(M) 83% (F)

Fazer sexo com duas mulheres 37% (M) 85% (H)

Fazer sexo com dois homens 31% (M) 45% (H)

Ver duas mulheres transando 42% (M) 82% (H)

Observar dois homens transando 19% (M) 16% (H)

Fazer sexo com um(a) estranho(a) 49% (M) 73% (H)

Transar em local público 57% (M) 66% (H)

Ser dominado(a) 65% (M) 53% (H)

Dominar alguém 47% (M) 60% (H)

Transar com um(a) famoso(a) 52% (M) 62% (H)

Ser amarrado(a) para obter mais prazer 52% (M) 46% (H)

Amarrar alguém 42% (M) 48% (H)

Ser masturbado(a) por um(a) desconhecido(a) 33% (M) 63% (H)

Fazer sexo anal 33% (M) 64%(F)

Masturbar um(a) desconhecido(a) 28% (M) 62% (H)

Sexo inter-racial 28% (M) 61% (H)

Ver meu parceiro ejaculando em mim 41% (M) 29% (H)

Transar com alguém muito mais velho do que eu 34% (M) 48% (H)

Transar com alguém bem mais novo do que eu 18% (M) 57% (H)

Fazer sexo com mais de três pessoas 57% (M) 16% (H)

Ser fotografado(a)ou filmado(a) durante o sexo 32% (M) 44% (H)

Participar de um suingue com um casal que não conheço 27% (M) 40% (H)

Participar de um suingue com um casal que conheço 18% (M) 42% (H)

Dar palmadas ou chicotear 24% (M) 44% (H)

Receber palmadas ou ser chicoteado(a) 36% (M) 29% (H)

Ter relação homossexual 37% (M) 21% (H)

Ser forçado(a) a fazer sexo 29% (M) 31% (H)

Sexo com um objeto não sexual 26% (M) 28% (H)

Transar com uma prostituta ou stripper 13% (M) 40% (H)

Este conteúdo foi originalmente publicado no Livro Proibido do Sexo: o amor, o prazer e a sacanagem, da jornalista Marcia Kedouk.
Fonte: Superinterresante