Luana PiovaniImagem:
Daryan Dornelles/UOL
Nathália Geraldo
De Universa
Transar sem vontade — "por educação", como a atriz Luana Piovani diz ter feito — é uma conduta ligada a vários fatores da vida: nem sempre o que está em jogo são a falta de libido ou a dificuldade de reagir a estímulos físicos.
A atriz, por exemplo, contou que no casamento de oito anos com o surfista Pedro Scooby precisou fazer terapia para entender que a questão era "quase matemática".
"Já tive tantas vezes culpa de não ter vontade de transar com a pessoa. Fazendo terapia, você vai vendo que o comportamento é quase matemático: é a lei da oferta e da procura. Se tem muita oferta, você perde o interesse", explicou, durante live feita com Regina Navarro, psicanalista e colunista do Universa.
Não é só a atriz que se sente culpada por não querer transar com o parceiro ou parceira e, por vezes, acaba fazendo mesmo assim. De onde vem esse comportamento? A psicoterapeuta especialista em sexualidade Vera Lucia Vaccari aponta alguns fatores.
Você transa sem vontade?
O sexo por obrigação — ou sem a vontade necessária para a prática — para uma mulher com relacionamento estável e não-violento pode estar associado a uma construção social machista. Segundo a psicoterapeuta, vem da ideia de que o homem precisa sempre ser satisfeito. Assim, a mulher coloca seus desejos em segundo plano e se rende ao sexo, mesmo sem querer.
Vera não fala especificamente do caso de Luana, mas pondera que o hábito de se colocar na condição de transar sem vontade é, de fato, naturalizado por muitas de nós. "Estamos em uma sociedade que, além de machista, faz com que a vida amorosa e sexual da mulher seja dependente do homem. São eles, por exemplo, que pedem em namoro, em casamento". A dependência, assim, pode também ter efeito na hora de ir para cama.
"Se uma mulher chega no meu consultório falando disso, a pergunta que eu faria é: por que se colocar em uma situação amorosa e sexual em que não está a fim?".
Quem tem relacionamentos estáveis e mais longos deve entender que cada pessoa tem um ritmo sexual diferente.
Isso significa que "é difícil o casal ter vontade ao mesmo tempo", diz Vera.
Abrir o jogo sobre isso pode tornar a relação, e o sexo, claro, mais sinceros. "A pessoa pode, então, fazer um convite para o outro: nada escrito ou algo assim, mas em alguns momentos, nestas relações estáveis não-violentas, brinco que a coisa pode 'pegar no tranco'".
Investigando o desânimo
Olhar para outros fatores, físicos e emocionais, é importante para investigar o desânimo quando o parceiro ou parceira chama para transar. Entre eles, estão doenças crônicas, estresse, disfunções sexuais (sentir dor durante a relação sexual, por exemplo), menopausa e histórico de abusos. Dormir mal, tomar pílula anticoncepcional entram ainda na lista de questões que podem fazer a mulher ter menos libido.
"Não estou a fim, agora não vai rolar"
Dizer "não", quando de fato transar não é a programação que você queria para aquele momento, também é importante. "A mulher pode falar para ela mesma e para o parceiro que não é um objeto do outro. E comunicar: 'Não estou a fim, agora não vai rolar'."
No sexo casual, o comportamento de "ir no embalo e transar só porque já está lá" pode e deve ser revisto, comenta Vera. "Se a mulher se vê em um motel com carinha, que a coloca nessa decisão de querer ou não querer, há outros elementos a serem avaliados; é preciso saber se você estará em uma situação violenta, por exemplo".
A todo momento, a mulher deve ter consciência de que não precisa "violentar-se" ou agir de forma não consensual.