SÃO PAULO (Reuters) - Após acumular perdas milionárias em um parque
eólico em Sergipe que utilizou turbinas e financiamento da China, a
elétrica Desenvix , controlada pela norueguesa Statkraft, disse ter
aprendido algumas lições e está buscando alternativas para reduzir
prejuízos e minimizar riscos para futuros investimentos no país.
"O projeto tem nos servido de aprendizado. Como temos um contrato de
longo prazo, o importante é ter o parque operando bem e aprender as
lições para não ter novos problemas no futuro", disse à Reuters o
presidente da Desenvix, João Robert Coas.
A afirmação do
executivo ocorre em um momento em que investidores buscam novas formas
de financiamento para participar de leilões de energia promovidos pelo
governo. Muitos têm olhado para a China como forma de obter recursos e
equipamentos, o que, ao menos na experiência da Desenvix, levou a
resultados aquém do esperado.
Ele contou que o projeto eólico
em Sergipe tem performado cerca de 22 por cento abaixo do estimado. Além
disso, a usina de Barra dos Coqueiros, com turbinas da chinesa Sinovel,
recebeu aproximadamente 4 milhões de reais em penalidades por entrega
de energia abaixo do contrato.
Diante disso, a Desenvix já
iniciou um investimento de 2,8 milhões de reais em um "plano de
remediação" do empreendimento, que iniciou operação em 2012.
A empresa também tem buscado alternativa para outro fator que prejudica o negócio, a variação cambial.
O financiamento da usina, de cerca de 50 milhões de dólares, foi obtido
junto ao Banco de Desenvolvimento da China em 28 de dezembro de 2012,
com o dólar a 2,04 reais, contra 3,10 reais na cotação atual.
No balanço do primeiro trimestre, a Desenvix contabilizou uma variação
cambial negativa de 24 milhões de reais com a operação, embora tenha
notado que esta "não tem afetado significativamente o caixa" por ser um
empréstimo de longo prazo, com vencimento no final de 2027.
"Esse descolamento gerou um impacto contábil. Temos tido conversas com o
CDB para ajustar o contrato de forma a reescalonar a curva de
pagamentos. Baixar um pouco o valor agora e subir mais na frente", disse
Coas, que busca a renegociação para reduzir custos em meio a perdas com
o projeto.
Somadas penalidades, aportes para recuperação da
performance da usina e problemas cambiais, os gastos inesperados chegam a
quase 31 milhões de reais, quase 20 por cento do investimento estimado
no empreendimento, de 162 milhões de reais.
O presidente da
Desenvix afirmou que uma detalhada análise do parque, que contou com a
contratação de consultorias especializadas, revelou que a geração a
menor deve-se em parte a uma estimativa errada sobre os ventos da região
e parte a falhas de modelagem, mecânica e eletrônica nos equipamentos
que causaram uma indisponibilidade maior que o previsto.
A
empresa também disse ter enfrentado problemas para obter manutenção
adequada por parte da Sinovel, que enfrentou graves problemas
financeiros em suas operações na China. De acordo com Coas, a Desenvix
entende que poderia cobrar 4 milhões em multas contratuais do
fabricante, mas as partes conversam para estabelecer um acordo, frente à
dificuldade de se obter ganhos judiciais contra empresas chinesas.
O presidente da Desenvix estima que os aportes na recuperação da usina
devem fazer com que a unidade alcance a geração estimada em contrato no
final de julho, o que não deve poupar a empresa de mais uma multa,
referente ao déficit de geração no primeiro semestre.
INVESTIMENTOS
O executivo também comentou que a Statkraft mantém o interesse em
investir no Brasil após tornar-se majoritária na Desenvix, assumindo a
fatia da Engexiv no negócio.
"O foco deve ser em hidrelétricas,
médias e pequenas, e em energia eólica", afirmou Coas, que citou uma
avaliação interna do grupo segundo a qual o país é um dos melhores
destinos para investimentos na energia dos ventos.
A Desenvix já possui operação de hidrelétricas e PCHs e outros parque eólicos no Brasil.
Fonte: http://noticias.r7.com/