"Não há dúvida de que a disponibilidade e o aumento da renda própria, com melhora da situação financeira da mulher faz com que ela saia mais para beber com amigos", afirma o gastroenterologista Joaquim Melo, consultor em dependência química e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas).
Segundo o antropólogo Mauricio Fiore, do NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos), com a quebra das barreiras de gênero, antigos hábitos masculinos também passam a fazer parte do cotidiano das mulheres. "A partir do momento em que as mulheres passaram a gozar de autonomia, velhos hábitos associados aos homens ficam à disposição, até mesmo aqueles que trazem danos ou perigoso à saúde", afirma.
Pressão e acúmulo de funções
Não basta ser uma boa profissional. No trabalho, a mulher acaba tendo que superar os homens --e, apesar disso, ainda aceitar salários menores que os deles. Quando volta para casa, muitas ainda têm que se preocupar com limpeza, arrumação, alimentação e educação dos filhos. Para o psiquiatra da USP Arthur Guerra, tamanha carga de responsabilidades e cobranças pode levar à busca por uma válvula de escape: o álcool.
Muitas passam a ter no álcool e em seus efeitos um antídoto para se apartarem de sofrimentos, angústias e frustrações. "O álcool tem efeitos ansiolíticos, portanto, pode ser consumido como substância que alivia a tensão, o estresse e a ansiedade", diz Stella Pereira.
Porém, a bebida ou qualquer outra droga como muleta não ajuda a resolver o cerne da questão geradora dos conflitos internos. Pior: ainda pode criar um problema ainda maior, o alcoolismo.