Falta de desejo, anorgasmia, disfunção erétil ou fantasias sexuais. Falámos com uma especialista e respondemos às preocupações sexuais mais frequentes.
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SexoFoto: Direitos Reservados
Sozinho ou ao pares, durante uma palestra ou em fóruns anónimos na Internet. Independentemente do lugar, as dúvidas em relação à vida sexual variam conforme o contexto e a pessoa, mas há umas que se repetem continuamente e, portanto, ajudam a definir a falta de conhecimento e a preocupação geral em relação ao corpo e ao sexo. Conversámos com a psicóloga clínica e sexóloga Vânia Beliz, que nos explicou quais as questões mais abordadas pelo público e ajudou-nos a encontrar as respostas.
MULHERES
1- Por que tenho pouco desejo sexual?
A ausência de desejo sexual pode ter muitos motivos, seja medicação, alteração do estilo de vida, se está a passar por um período muito complicado a nível profissional ou familiar, até uma mulher que foi mãe há pouco tempo e está no período de amamentação, fase que pode reduzir o desejo… Portanto é uma questão que deve ser sempre muito bem avaliada. É preciso analisar a situação da relação também. Mas o único certo é que em vez da mulher se culpabilizar, deve tentar perceber de onde é que vem essa dificuldade, até porque pode ser multifactorial.
2- O que me impede de atingir o orgasmo?
No caso das mulheres, muitas das vezes, é a dificuldade na excitação. O fato das mulheres não terem facilidade em excitar-se logo para começar, também faz com que elas depois não tenham capacidade para conseguir ter a excitação máxima que leva ao orgasmo. A dificuldade das mulheres em concentrarem-se na altura da relação sexual, no que estão a sentir, também influencia. Mas acima de tudo são as dificuldades na excitação que depois conduz à dificuldade em atingir o orgasmo. Podem ainda existir mulheres que tomem ansiolíticos, antidepressivos ou que fazem uso de algum tipo de medicamento que também podem contribuir para a dificuldade em atingir o orgasmo.
3- Qual é a idade ideal para iniciar a vida sexual?
Esta questão é muito frequente. Normalmente, em relação aos jovens, eu respondo de uma maneira muito simples, que é: a lei só identifica como ter capacidade de consentimento para o ato sexual a partir dos 14 anos. Ou seja, antes dos 14 anos, a pessoa não é considerada capaz de dar consentimento para a prática sexual. Agora, a pessoa deve ter uma relação sexual quando se sente preparada e aí pode ser aos 16, pode ser aos 20 como pode ser aos 30…
4- O sexo acaba para as mulheres com menopausa?
Existem realmente muitas mulheres que, com a chegada da menopausa, referem sentir menos desejo sexual e, às vezes, isso acontece também porque existe uma alteração hormonal, mas também porque as mulheres estão pouco informadas sobre as questões do envelhecimento. E depois, para as mulheres, o envelhecimento traz uma coisa negativa, a questão da imagem… Agora [o sexo] não tem que acabar e pode até tornar-se mais gratificante. Eu tenho muitos casos de mulheres que durante a fase fértil tinham muito receio de engravidar então, por isso, não conseguiam soltar-se na relação, e que agora que têm mais disponibilidade, que já não tem risco de gravidez, que os filhos já não estão em casa, já encontraram mais espaço para viver uma intimidade de uma forma mais liberta. É importante que as mulheres procurem durante a menopausa um acompanhamento clínico também para avaliar a possibilidade de tomar algum medicamento que poderá ajudar a repor as hormonas e a ajudar a melhorar o desejo sexual, por exemplo. E depois também a recorrer a alguns produtos que ajudam na lubrificação, porque muitas das vezes com o envelhecimento as mulheres têm dificuldade de lubrificação. E existem já muitos produtos que podem melhorar essa capacidade. São muitas as opções ou estratégias para ajudar as mulheres no processo de envelhecimento. O mais importante são os fatores psicológicos, que limitam muito a intimidade, porque a mulher deixa de se sentir desejada ou desejável, porque muitas sentem irritação, calor, mal-estar e fatores psicológicos que são limitadores da sexualidade.
5- É normal ter apenas orgasmos clitorianos?
Sim, a maior parte das mulheres atingem o orgasmo com estimulação clitoriana e o clitóris é a estrutura de prazer para a maior parte das mulheres. Portanto, com a penetração exclusiva do pénis-vagina, a maior parte das mulheres não consegue atingir o orgasmo. Muitas das vezes elas precisam de estimulação ou antes da penetração ou mesmo durante a penetração no clitóris para atingir o orgasmo.
6- Por que a penetração dói?
A penetração não tem de doer. Se dói é porque existe algum problema. Normalmente, quando a dor é na entrada da vagina é devido á dificuldade de lubrificação. Depois, se a dor for dentro da vagina com a penetração, poderemos estar a falar aqui ou de uma questão de tamanho ou também da falta de lubrificação. Normalmente com o lubrificante as mulheres melhoram bastante. Depois interessa saber se estão a contrair-se, se estão nervosas, mas normalmente um lubrificante é o suficiente para as mulheres tirarem as queixas.
HOMENS
1- O tamanho do meu pénis é normal?
O mais importante é explicarmos aos homens que não há nada que possa fazer para mudar o tamanho do pénis. Isto é importante porque há muitos homens que recorrem a cirurgias ditas milagrosas, que gastam dinheiro em produtos para poderem aumentar o pénis, mas não existe nada seguro, nem do ponto de vista cirúrgico. E eu posso dizer há homens que pagam pequenas fortunas para injetar produtos que aumentam, por exemplo, o diâmetro, mais até no diâmetro. É importante que os homens percebam que cada homem tem o seu tamanho, que existe um tamanho que é considerado "normal" para os homens europeus – de 12 a 14 cm –, mas que isso não é o principal factor na satisfação do casal e que insistirem nessa questão do tamanho prejudica mais do que o resto. E cada homem deve aproveitar aquilo que tem. Só os pénis abaixo dos 10 cm é que são pénis ditos pouco funcionais porque na penetração levantam problemas, mas também aí não há nada a fazer.
2- Eu sou um ejaculador precoce. O que posso fazer?
Também é muito importante fazer o diagnóstico correto da ejaculação precoce, porque o que nós verificamos é que muitos homens acham que são ejaculadores precoces e depois percebemos que não há disfunção. O ejaculador precoce é aquela pessoa que à mínima estimulação ejacula. E, muitas das vezes, o que os homens querem é efetivamente demorar mais tempo e o que verificamos naquilo que recolhemos é que muitas das vezes eles não são rápidos ou seja, o que eles devem perceber é que a pouca experiência sexual também conduz às ejaculações mais rápidas, que a masturbação é uma forma que os homens poderão ter aprender a controlar a sua ejaculação e que devem diminuir as preliminares se ejacularem demasiado rápido. São algumas estratégias e depois, claro, no caso de haver a disfunção comprovada existem fármacos receitados ou descritos pelo médico mediante avaliação que podem ajudar a melhorar. O que verifico, muitas das vezes, é que essas ejaculações precoces surgem pela ansiedade no empenho e medo de falhar.
3- Como combater a disfunção erétil?
Tem de sempre haver uma avaliação clínica porque tem de se tentar perceber também em que momentos é que o homem tem sensação de falha. Porque se o homem durante a masturbação não tem falha de ereção e depois ela acontece na penetração, podemos estar a pôr em causa que poderá ser uma situação de ansiedade na hora da relação. Agora, aqueles homens que acordam sem ereção de manhã todos os dias, que têm algum problema associado a diabetes e colesterol crónicos, que potenciam as dificuldades, têm mais probabilidades de ter alguma disfunção. As disfunções sexuais necessitam sempre de uma avaliação clínica, principalmente por parte do médico e também do sexólogo. Existem excelentes medicamentos, mas apenas com prescrição clínica. Para aumentar o tempo e para aumentar a rigidez, os homens também consomem produtos que compram às vezes pela Internet, produtos que muitas das vezes aparecem como potenciadores e que a longo prazo podem trazer graves problemas para a saúde. O facto de um homem falhar uma vez ou duas não significa que tenha uma disfunção, que é uma crença muito comum, eles falham uma vez e começam a achar que nunca mais vão funcionar.
4- Porque é que as mulheres levam mais tempo para atingir o orgasmo?
Porque a nossa resposta sexual é diferente, o mecanismo de excitação é diferente e logo as mulheres precisam realmente de serem mais estimuladas para conseguir ter prazer. Tem a ver com diferenças biológicas da nossa resposta sexual.
5- Como realizar uma fantasia sexual?
As fantasias podem ser realizáveis ou não. E se forem realizáveis, elas só devem acontecer quando existe consentimento e vontade por parte das pessoas envolvidas. Realizar uma fantasia mediante uma situação de insegurança ou de medo pode trazer riscos para a relação. Portanto, há fantasias que podem ser fáceis porque não envolvem outras pessoas e porque não põe em causa determinadas situações, por exemplo, vestir uma determinada roupa ou fazer sexo em determinado sítio. Agora, as pessoas devem sempre avaliar os riscos que essa concretização da fantasia pode ter. Se o risco realmente for mais elevado que o benefício, então deve ser questionada a realização daquela fantasia. Depois existem coisas que surgem na nossa cabeça e que não são realizáveis, servem apenas para nos excitar, que muitas vezes até desaparecem após o orgasmo, e que não têm obrigação nenhuma de serem partilhadas. Nós não temos de partilhar obrigatoriamente com a pessoa com quem estamos tudo o que se passa na nossa cabeça, não é? E em relação a algumas práticas que queiram experimentar ou concretizar nada como colocá-las em cima da mesa e perceber se do outro lado existe disponibilidade. Havendo consentimento, conforto e a vontade poderá realizar-se a fantasia. Se for alguma coisa que crie alguma insegurança será melhor avaliar, porque pode colocar em risco depois a estabilidade da relação.
6- Eu e o meu/minha parceiro(a) fazemos pouco sexo. É normal?
Os homens normalmente manifestam mais desejo da frequência sexual que as mulheres. E muitas das vezes existe um descasamento em relação àquilo que o outro deseja. Nesta altura o importante é as pessoas dialogarem. Não há problema nenhum, não deve constituir um risco e não deve pôr em causa o sentimento do outro porque naquele dia não houve sexo. Deve-se é tentar perceber o que é que poderá estar a acontecer. Se a pessoa tinha uma frequência sexual muito ativa e de um momento para o outro deixou a ter, deve-se tentar perceber porque é que isso está a acontecer. E, às vezes, pode ser simplesmente porque houve uma situação de stress, a pessoa não está com a mesma disponibilidade, pode haver muitos fatores que fazem com que as pessoas se inibiam do contacto sexual. Por isso é importante que as pessoas conversem se notarem algum tipo de afastamento.
Fonte: cmjornal.pt