sexta-feira, 10 de abril de 2015

DINHEIRO DAS SUBVENÇÕES ERA USADO PARA ABASTECER CARROS DE DEPUTADOS

Novas irregularidades vieram à tona no escândalo das verbas de subvenção social da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese). Ontem, durante o segundo dia de depoimentos das testemunhas convocadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SE), houve a confirmação de que deputados estaduais da legislatura passada tiveram ligações diretas com as entidades que receberam R$ 12,5 milhões em recursos da Alese durante o ano de 2014. Um dos casos foi o da Associação de Moradores Carentes de Moita Bonita, cuja ex-presidente, Soraya Nunes Barreto dos Santos, admitiu em juízo que, enquanto ocupava o cargo, era assessora do gabinete da então deputada Angélica Guimarães (PSC), ex-presidente da Alese e hoje conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE/SE).

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a Associação de Moradores Carentes recebeu R$ 275 mil em verbas indicadas por Angélica e pelos deputados Luiz Mitidieri (PSD), Arnaldo Bispo (DEM) e Venâncio Fonseca (PP). Deste total, cerca de R$ 120 mil foram gastos em postos de combustíveis de Moita Bonita. Os empresários José Augusto da Costa e Diego Lima Costa, donos de um dos estabelecimentos que receberam cheques da associação, também prestaram depoimento e admitiram carros da entidade, mas não souberam dizer quantos e negaram ter qualquer aproximação com políticos.

A subprocuradora regional eleitoral, Eunice Dantas Carvalho, reagiu indignada ao tamanho da despesa e suspeita que o dinheiro das subvenções teria sido usado na campanha do marido de Angélica, o médico Vanderbal Marinho (PTC), que se elegeu deputado estadual. Durante as investigações do MPF, um cartaz de propaganda dele foi encontrado na casa indicada como sede da Associação de Moradores Carentes. "Você há de convir que R$ 120 mil para uma associação gastar, só com combustível, é um valor extremamente alto. Não dá pra se gastar tudo isso com gasolina em um ano só. A nossa suspeita é de que este valor foi revertido para a campanha dos deputados em forma de combustíveis", suspeita Eunice, sem descartar a possibilidade de abrir outras ações contra os parlamentares nas esferas cível de criminal.

O atual presidente da entidade, Dogival de Jesus, também foi convocado para depor, mas apresentou atestado médico e deve comparecer em outra data a ser marcada. Hoje, às 8h, devem ser ouvidos os presidentes de duas associações da cidade de Malhador (Baixo São Francisco): Luiz Carlos de Araújo, da Associação de Moradores, e Lucas Cunha, da Associação Comunitária, além do vereador local Fábio Barbosa dos Santos, representante informal desta última entidade, e Willames Santos, que teria recebido R$ 185 mil em cheques das duas associações.

Até junho deste ano, 165 testemunhas de acusação e defesa serão ouvidas pelo juiz federal Fernando Escrivani Stefaniu, que é o relator do processo. O MPF pede a cassação de 12 mandatos dos parlamentares acusados, a perda dos direitos políticos para seis ex-deputados e a aplicação de multa para outros cinco réus. No mês passado, a nova presidência da Alese decidiu extinguir as verbas de subvenção a partir deste ano.


FONTE: http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=15752