Os moradores das localidades onde a probreza reina no estado de Sergipe. vivenciam, nas periferias urbanas e zonas rurais, violações sistemáticas aos direitos humanos. São pessoas que se acostumaram a ver outras serem assassinadas, entre elas, seus filhos, parentes, amigos e vizinhos. Na década de XX, o estado de Sergipe era povoado por “gangues”, galeras e grupos locais que assumiam para si o controle de um território e estabeleciam os territórios inimigos, matando sistematicamente em função dessa separação.
A mesma dinâmica permaneceu na primeira década do século XXI, com incrementos relacionados ao desenvolvimento de mercados ilegais de drogas e armas em todas as cidades Sergipanas. Nos anos de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017 as populações começaram a sofrer ainda mais com homicídios, com, respectivamente, com milhares de casos somados nos ultimos anos, casos de crimes violentos letais intencionais registrados pela Secretária de Segurança Pública (SSP).
Apenas, em três anos, Centenas de pessoas morreram por intervenção violenta de outra pessoa. Depois desses três anos, com a capital Aracaju e outras cidades sergipanas figurando entre “as mais violentas do mundo”, o ano de 2017, os numeros só aumentaram.
Em 2017, foram registrados muitos crimes violentos letais intencionais.
A SSP, no entanto, segue um ritual comum nesses casos. Primeiramente, seus gestores vem a público afirmar que irão investigar antecedentes criminais das vítimas, divulgando seus nomes apenas depois de feito esse levantamento. Como em outros caos, os familiares precisam sofrer, além da dor da perda de um ente querido, a humilhação de ser objeto da desconfiança e das acusações sociais por trás desse modus operandi.
Este número incrível retrata a profundidade de uma tragédia em curso, com consequências dramáticas para a população mais pobre que, nos dias de hoje, tem muito motivos para entrar em pânico. Esqueceu, entre outras coisas, de falar que os péssimos resultados da gestão do ex-governador, no controle social dos homicídios, são fruto de investimentos equivocados em policiamento ostensivo em detrimento de ações policiais de investigação e de outros investimentos na área social.
Observou-se, nos últimos governos do Estado, a mesma lógica de política pública de segurança baseada em ações de policiamento ostensivo, com uma indiferença incrível as mortes entre grupos locais que atuam nas periferias de Sergipe, tratando os crimes como “acertos de conta entre bandidos”. Assim, milhares de jovens pobres das periferias morreram sem que qualquer responsável por suas mortes fosse indiciado. Enquanto isso, a população mais rica viveu sua vida indiferente a tudo isso. Realmente, os moradores de áreas nobres não têm motivos para pânico, pois as mortes não acontecem nas portas de suas casas, nas praças que frequentam, nas escolas de seus filhos ou nos seus locais de lazer.
A disseminação da violência é circunscrita a periferia, com jovens não apenas matando e morrendo, mas aprendendo a matar e morrer como parte de um processo de socialização. As facções cultivaram, nos presídios e nas periferias, a ideia de que são irmandades e se constituem como verdadeiras comunidades políticas, instituídas por compromissos e sentimentos de pertença ao grupo. Suas ações violentas, no entanto, são quase sempre circunscritas à periferia, atualizando discriminações internas que repercutem na vida das populações locais, gerando uma vitimização contínua e restrita as populações mais pobres e marginalizadas. Diante da anuência de governos e segmentos privilegiados da população, a responsabilidade pelo problema é tratada como resultado da escolha de cada um. Realmente, a maior parte dos jovens das periferias sergipanas escolhe apenas morrer depois de uma vida inteira sem nenhum envolvimento com a prática de crimes.
O problema, no entanto, ainda é os que não fazem essa escolha e encontram um mundo social em que não veem sentido em amar ou criar projetos de vida.
São pessoas que não encontram respeito ou motivos para respeitar a vida do outro. São lembrados apenas pelas forças policiais ou pelos inimigos e isso os transforma em pessoas capazes de muitas coisas até que sofram uma morte violenta, em uma sociedade que não considera sua humanidade. Será necessário pensar sobre isso para encontrar soluções que envolvam reconstrução de uma sociedade que aprendeu a ver e a deixar morrer uma parte da sua população.
Radialista e Blogueiro Givaldo Silva.