Jairo Bouer
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Sair do armário para a família, ou seja, contar para os pais sobre ser gay, lésbica ou bissexual, pode ser uma experiência difícil, e muitos jovens demoram para tomar essa decisão. Para os pais também não é sempre fácil receber a notícia. Um estudo mostra que, dois anos depois de tomar conhecimento disso, muitos deles ainda sofrem para se adaptar, tanto quanto aqueles que acabaram de ficar sabendo.
Pais que têm dificuldade para lidar com o fato de que o filho ou a filha não é heterossexual apresentam uma tendência maior a transmitir sinais de desaprovação e a adotar comportamentos negativos que podem colocar os jovens em risco de depressão, abuso de substâncias e até suicídio. Por isso é tão importante entender esse processo.
Em geral, a principal preocupação dos pais é com a integridade do filho, já que, infelizmente, o preconceito ainda é grande e muitos gays são assediados, intimidados e agredidos. Algumas vezes, isso ocorre dentro da própria família. Para alguns pais e mães, também existe o fato de ter sonhado com um futuro tradicional para o filho. É preciso tempo para reprocessar essas imagens mentais cultivadas durante anos.
Os pesquisadores, da Escola de Saúde Pública da Universidade George Washington, nos EUA, contaram com questionários respondidos por mais de 1.200 pais de jovens LGB com idades entre 10 e 25 anos de idade. Muitos participantes foram abordados ao buscar informações sobre o tema em um site, e por isso a equipe conseguiu um grande número de pais e mães que tinham acabado de receber a notícia – eles representaram 26% da amostra.
Segundo os resultados, os pais que haviam descoberto sobre a orientação sexual do filho há dois anos relataram o mesmo grau de dificuldade de aceitação que os participantes que haviam recebido a informação no mês anterior. Os autores pontuam que dois anos é muito tempo de estresse para um adolescente enfrentar.
Os dados, publicados na revista Archives of Sexual Behavior, mostram que pais afro-americanos e latinos relataram maior dificuldade de adaptação em relação aos brancos. Pais de jovens mais velhos também apresentaram maior dificuldade. Não houve diferença significativa entre pais e mães, e o sexo do filho também não interferiu nos resultados.
De acordo com os autores, a maioria dos pais passa por um processo de adaptação, que pode ser longo, mas depois tudo se ajeita. Nesse estudo, aqueles que haviam recebido a notícia há cinco anos ou mais foram os menos propensos a relatar dificuldades em relação à orientação sexual do filho ou da filha.
Intervenções para acelerar o processo de adaptação seriam benéficas não apenas aos pais, como também aos filhos. Alguns estudos já mostraram até que adolescentes bi ou homossexuais que têm uma relação aberta e harmoniosa com a família são mais propensos a usar camisinha. Ter apoio e se sentir amado faz a gente querer cuidar melhor de si e dos outros.
O coordenador do estudo, David Huebner, e sua equipe têm um site e um documentário, ambos em inglês, com informações baseadas em evidências científicas para ajudar pais a lidarem com a descoberta de que o filho é gay, lésbica ou bissexual. O projeto chama-se "Lead With Love" (leadwithlovefilm.com).
Sobre o autor
Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e bacharel em biologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fez residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Nos últimos 25 anos tem trabalhado com divulgação científica e comunicação em saúde, sexualidade e comportamento nos principais veículos de mídia impressa, digital, rádios e TVs de todo o país.
Sobre o blog
Neste espaço, Jairo Bouer publica informações atualizadas e opiniões sobre biologia, saúde, sexualidade e comportamento.
Fonte: uol