Foto: dolgachov/Envato
Uma pesquisa feita pela Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação, Meio Ambiente e Trabalho da França (Anses, na sigla em francês) identificou 60 compostos que podem fazer mal para a saúde em marcas populares de fraldas descartáveis. Os dados, inéditos, foram divulgados ontem pela entidade. Entre eles, substâncias químicas usadas em produtos de beleza, agrotóxicos proibidos há mais de 15 anos no país europeu e o glifosato, um tipo de defensivo agrícola que é classificado pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) como potencialmente cancerígeno para humanos e amplamente utilizado no Brasil e no mundo. Em 2016 e 2017, a imprensa francesa já havia noticiado a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), outra substância potencialmente cancerígena, e outros compostos nocivos em fraldas de grandes fabricantes como a Pampers, líder de mercado no país. Essa é a primeira avaliação de um órgão oficial sobre o tema. O governo afirma que as substâncias realmente estão presentes em quantidade acima do limite tolerado, e que, misturadas à urina das fraldas, poderiam entrar em contato por tempo prolongado com a pele dos bebês. Mesmo presentes em pequenas quantidades, segundo o relatório da Anses, há a possibilidade de danos à saúde pois a pele dos pequenos é mais sensível. Por exemplo, além dos compostos que vão parar na fralda durante o processo de produção ou por estarem presentes nas matérias-primas, há ainda moléculas adicionadas intencionalmente, como aromas perfumados, que podem causar alergias.
Providências imediatas
A descoberta é alarmante porque a maioria dos bebês usa fraldas descartáveis, com cerca de oito trocas diárias. São 4 mil unidades nos três primeiros anos de vida. Assim, a recomendação do órgão é a de que todas substâncias sejam removidas das fraldas ou tenham ao menos seu teor reduzido. Outra orientação é criar regulamentações mais restritivas para o setor e fiscalizá-las para controlar de fato a quantidade de substâncias que entra em contato com a pele do bebê. A ministra da Saúde francesa, Agnes Buzyn, afirmou que não há risco imediato para a saúde, mas assinou junto com os ministros do Meio Ambiente e Economia da França um comunicado e pedindo que os fabricantes tomem providências em até 15 dias.
No Brasil
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fiscaliza o setor. A lei brasileira prevê que fabricantes de fraldas repitam testes de irritação cutânea e sensibilização toda vez que a produção for alterada. Há uma lista de compostos permitidos na categoria e as marcas também devem elaborar estudos de estabilidade dos produtos. Em junho de 2018, o órgão determinou o recolhimento de lotes da marca Huggies Turma da Mônica, fabricada pela Kimberly-Clark, sob o argumento de que a empresa não teria seguido adequadamente os testes que garantiriam a segurança e atoxicidade do produto. A Kimberly-Clark retirou os lotes de circulação, mas avisou que recorreria da decisão por não concordar com seu teor. Em nota à Agência Brasil, a empresa declarou que as fraldas interditadas poderiam apresentar escurecimento por conta da oxidação de um componente, mas sem riscos à saúde. Já a P&G, fabricante da Pampers, uma das marcas mais vendidas no país e citada no relatório da Anses por conta de estudos anteriores realizados com seus produtos em 2017, afirmou em nota ao Bebê.com.br que todas as suas fraldas são 100% seguras e que seguem todas as regulamentações locais e internacionais sanitárias. A empresa também disse que fez mais de 100.000 testes de vestígios nas fraldas somente nos últimos anos para confirmar a ausência de substâncias nocivas nas fraldas. (bebe.abril)