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Nathália Geraldo
De Universa
Mulheres, ao contrário do que a indústria cosmética e a publicidade tentam nos fazer acreditar, não têm naturalmente cheiros de flores. A pele, os cabelos, o suor que se acumula nas axilas ou embaixo dos seios, e até mesmo a vagina - que excreta secreções, é úmida e, por isso, vive sofrendo com a pecha de "suja"- são partes do corpo que, dependendo de vários fatores, geram cheiros inerentes a elas.
O que mais gera preocupação, na maioria das vezes, são os cheiros vaginais. Não à toa, a sexualidade e a menstruação são tratadas com vergonha por muitas mulheres.
Mas a luta contra o suor quase sempre demanda bastante esforço de nós — que lançamos mão de lenços umedecidos, cremes, perfumes e outras formas de disfarçar o cheiro, para que fiquemos cheirosas o dia todo.
Mas que tipo de cheiro é natural? E quais são alvo de higienização só por que temos tabus em relação ao nosso corpo? Vamos por partes.
As axilas
Mau cheiro na axila pode ser causado por colonização bacteriana
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O cheiro desagradável que pode surgir nas axilas (e aí, não só das mulheres) tem nome técnico: bromidrose. Tudo acontece por causa de uma colonização bacteriana nas glândulas sudoríparas apócrinas (presentes debaixo do braço e nas mamas, na região anal e na região genital), explica a dermatologista Lívia Lavagnoli. Quando alguém sua bastante, para completar, podem surgir as "pizzas" nas roupas.
A bromidrose também pode acontecer na região plantar dos pés —- ou seja, o chulé. Segundo a médica, o tratamento recomendado para eliminar esses cheiros podem ser antibióticos. Há quem use toxina botulínica (o botox) para diminuir a migração de bactérias para a área (o efeito pode durar mais ou menos seis meses, diz a médica).
Mudar um pouco a alimentação, evitando comidas apimentadas, alho e cebola, também pode melhorar o cheiro debaixo do braço.
O cheirinho debaixo do braço é causado pela presença de bactérias nas glândulas apócrinas da região, diz dermatologistaImagem: Anna Drozdova/Getty Images/iStockphoto
A limpeza das axilas, diz Lívia, é mais simples do que parece: lavar até duas vezes por dia a região, secar com uma toalha e passar desodorante de preferência. "Se lavar demais, o organismo pode entender que está faltando sebo nas axilas, como proteção, e produzir mais. Gera um efeito rebote".
Debaixo dos seios
A dobrinha do seio e o contato com o sutiã ou com a própria roupa (especialmente se são feitos de tecidos sintéticos) podem ser o motivo de mau cheiro bem semelhante ao das axilas por ali. A ginecologista e obstetra Carolina Ambrogini, do Projeto Afrodite, que faz parte do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que não há qualquer relação com aspectos hormonais do corpo feminino.
É causado, diz a dermatologista, pelas mesmas glândulas sudoríparas apócrinas. "Elas são mais leitosas, por terem gordura na composição. Por isso, são áreas atrativas micro-organismos, que se alimentam dessas gorduras.
A palavra de ordem, dizem as especialistas, é arejar a área. "Há também tratamentos médicos e produtos, como talcos líquidos e manipulados, que acalmam a pele e deixam a região sequinha", explica a dermatologista. Se o suor se mantiver acumulado ali, por falta de higiene, podem surgir fungos e bactérias. "É quando surgem quadros de micose e eritrasma [infecção na pele]", diz.
A virilha e a vulva
Costumamos associar vagina, virilha e vulva à sujeira: que tal conhecer mais essa área? Imagem: Priscila Barbosa
Muitas mulheres confundem os cheiros na região genital: vagina, vulva e virilha têm odores diferentes, e é importante conhecê-los para naturalizá-los. "A mulher quase sempre sabe pouco dessa região e, por isso, a associa a algo que não é limpo", comenta a ginecologista e obstetra Carolina.
Para limpar o sebo que também é produzido na área, é recomendado lavar vulva e virilha apenas com sabonete e água, externamente. "Quanto menos agente químico houver no sabonete, melhor", orienta Carolina.
Pelos da vulva e da virilha não são motivo para que a região tenha um cheiro ruim. Ou seja: ficar sem depilar não é "nojento" ou sinônimo de falta de higiene, como muita gente pensa.
"Os pelos são proteção e a depilação, inclusive a completa, é uma construção social. O que pode acontecer, entretanto, é que a secreção vaginal pode grudar ali nos fios e secar".
Sabonetes íntimos são itens polêmicos, mas não são terminantemente proibidos. Para algumas mulheres, podem funcionar; para outras, há alteração na flora vaginal e no pH da região (que é pH 4, ácido). O uso recomendado é de uma vez ao dia, diz a ginecologista, e sem colocá-lo no canal vaginal. Para os pelos, a recomendação é apará-los, para que mantenham a função de proteção da pele.
A vagina
A vagina, explica Carolina, tem um cheiro característico, mais adocicado. Não é preciso ter vergonha do odor natural dessa área, e o corrimento (isto é, a secreção vaginal) também é algo que devemos tratar com naturalidade. Casos em que ele aparece com cheiro diferente ou cor mais forte, entretanto, merecem ser avaliados por ginecologistas.
A vagina excreta secreção que tem cheiro adocicado. Ela é úmida. Mas se tem ideia de que é suja.
Qualquer variação de cheiro, na verdade, pode ser um sinal de desequilíbrio do organismo, falta de higiene. Candidíase, vaginose e odor parecido com o de peixe podre, assim, precisam de cuidados médicos específicos.
Os fios de cabelo
Dermatologista recomenda lavar os fios, mesmo que diariamente: talco e xampu seco podem obstruir porosImagem: Ponomariova_Maria/Getty Images/iStockphoto
Até mesmo os fios de cabelo podem entrar no rol de preocupação — quando eles estão sujos, é comum que as mulheres também tentem "esconder". Usar talco funciona? "A melhor maneira é lavá-lo com xampu. Talco ou xampu seco, que também são usados para tirar a sensação de oleosidade e melhorar o odor, podem obstruir os poros, se colocados com muita frequência ou deixados por mais de 24 horas".
Cheiro de menstruação existe?
A ginecologista Carolina explica que não é perceptível ao nariz humano um cheiro específico "de menstruação". "O que acontece é que o sangue passa a ter um cheiro quando entra em contato com o ar, mas é por causa da oxidação", explica. Por isso, a mulher que usa coletor menstrual deixa de sentir esse cheiro.
Hormônios: o cheiro muda de acordo com as idades
Assim como outras mudanças no corpo, os cheiros também podem mudar, por uma questão fisiológica, em cada fase da vida. "São muitas alterações hormonais, de menina a mulher. Na puberdade, por exemplo, os ovários produzem o estrógeno e a progesterona em quantidades significativas — e eles são aromáticos, atuam na atração sexual", explica Lívia. A produção diminui na menopausa, por exemplo, e se altera na gestação.
Fonte: UOL