Atraso ou ausência de menstruação podem ser resultado direto do estresse do momento que vivemosImagem: iStock
Calma, não é só com você. Em uma situação de estresse global como a que o mundo vive hoje, com milhões de pessoas em casa e com medo da pandemia causada pelo novo coronavírus, é comum, segundo ginecologistas ouvidas por Universa, que muitas mulheres tenham alterações no ciclo menstrual, sendo o atraso a mais comum. Elas contam, inclusive, que têm ouvido essa queixa de diversas pacientes.
Momentos de estresse, episódios de perda, de tristeza ou de tensão afetam diretamente o ciclo porque alteram a produção hormonal, o que, por sua vez, altera também a ovulação. E consequentemente, a menstruação.
O que o estresse tem a ver com a menstruação?
Primeiro, é preciso entender como o corpo funciona quando se está em uma situação de estresse.
Imagine que, de repente, você se vê em meio a um incêndio. Dois hormônios vão atuar: cortisol e adrenalina. "A adrenalina fornece energia para sair correndo. O cortisol aumenta a função cerebral e interrompe ou diminui as funções que o corpo considera não essenciais para que se tenha ainda mais energia", explica a ginecologista e obstetra Karina Tafner, especialista em Reprodução Humana pela Santa Casa de São Paulo.
O impacto sobre a menstruação tem tudo a ver com a ação do cortisol: uma das funções não essenciais que é interrompida ou adiada é a reprodução. Ou seja, pode ser que a ovulação atrase ou mesmo nem ocorra, abalando todo o calendário menstrual.
Nesse cenário, qualquer discussão boba pode ser capaz de liberar uma carga de hormônios grande o suficiente para dar ao seu corpo um sinal de alerta. Por isso, mesmo que esteja tudo bem com você na quarentena, o medo coletivo do momento faz esse estresse te atingir. Ou a preocupação com alguém próximo adoecer. Ou a insegurança financeira.
A menstruação também pode adiantar ou vir em maior volume?
Sim. As alterações causadas no ciclo menstrual por essa desordem de hormônios podem variar de mulher para mulher. "Não é uma bagunça grande, mas o mínimo necessário para causar uma resposta do corpo que pode ser atraso, adiantamento, ausência, vir muito, vir pouco ou ter escape", explica Roberta Grabert, ginecologista e obstetra especialista em sexualidade humana.
As alterações hormonais podem ser tão pequenas que nem chegam a ser detectadas em um exame, por exemplo.
Roberta afirma ainda que mesmo mulheres que tomam pílula anticoncepcional podem ter essa alteração, considerada normal caso não se estenda por mais de dois ciclos ou não venha acompanhada de outros sintomas.
Por quanto tempo é normal ter alterações no ciclo?
"Se for uma alteração em algum ciclo isolado, provavelmente foi causado por algum contratempo e pode ser considerado normal", explica a ginecologista natural Débora Rosa. "Mas se passarem três meses e persistir, é o caso de investigar."
Geralmente, diz Débora, um ciclo normal dura até 35 dias. Na quarentena, esse limite pode ser maior — e ainda assim não significar um problema mais grave.
Atraso também pode significar gravidez ou doença?
Sim. A gravidez é sempre uma possibilidade para mulheres que tiveram relações sexuais com penetração durante o ciclo. Excluída essa possibilidade, as especialistas concordam que, se a menstruação sempre foi regular e, apenas agora, está alterada, é bastante provável que a tensão psicológica seja a causa.
"Se acabar a quarentena e a irregularidade menstrual persistir, é importante que seja investigado mais a fundo", opina Débora.
A ginecologista Karina Tafner sugere anotar por três meses as datas envolvendo seu ciclo. E, se ainda estiver desregulada, procurar avaliação médica. "Se houver parada total da menstruação, pode-se procurar ajuda antes desse tempo", diz.
Outro problema de saúde, como tumores na hipófise ou nos ovários, também podem causar essas mudanças. Mas, nesses casos, as médicas sugerem que se acompanhem os sintomas e, eventualmente, consulte o ginecologista o quanto antes, mesmo que por telefone ou mensagem de texto.
Tomo chá de canela para descer ou espero?
As especialistas concordam que, se a causa for estresse, o ideal é não forçar o sangramento, mas, sim, entender o que a tensão do momento tem feito no seu corpo e tentar manter a calma. Então, em vez de buscar receitas caseiras, como chá de canela, tente perceber seu estado de saúde mental. Débora sugere meditações curtas, de cinco minutos, três vezes ao dia, e uso de óleos essenciais.
Roberta também diz que fazer uma mulher voltar a menstruar pode ser muito fácil, com pílula. "Mas a questão é descobrir por que ela não está menstruando e descartar qualquer tipo de doença. Se estiver tudo normal, quando parar de se incomodar, provavelmente vai menstruar em um dia que nem espera."