Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
A falta
de respostas claras em um depoimento causou o momento mais tenso, até
agora, do processo que apura o uso irregular das verbas de subvenção da
Assembleia Legislativa (Alese), nas eleições do ano passado. Ao fim da
tarde de ontem, no último dia de depoimentos das testemunhas de
acusação, o juiz relator Fernando Escrivani Stefaniu mandou que a
Polícia Federal conduzisse a testemunha Cristiano da Silva Souza, que
aparece como sócio de duas empresas beneficiadas com R$ 166 mil pagos
pela Associação de Cooperação Agrícola do Estado de Sergipe (Acase), ONG
que recebeu R$ 213 mil em subvenções indicadas pelo então deputado
estadual João Daniel (PT).
Tudo aconteceu porque ele não soube responder quase nenhuma pergunta
sobre a empresa, as atividades dela, as suas funções, os cheques
recebidos, os endereços da firma e até quem eram os sócios. A falta de
informações e o comportamento indiferente de Cristiano irritaram o juiz
Stefaniu. "O senhor não é dono de nada. Não sabe de nada, nem faz
nada... O senhor é um laranja. O senhor só vai sair daqui quando me
entregar todos os dados da empresa. Daí o senhor tá liberado", disparou
Stefaniu, ao em seguida bater uma caneta na mesa e dar uma ordem aos
policiais federais: "Leva ele".
Cristiano foi levado da sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SE),
no Capucho, até a sede da PF, no Siqueira Campos (zona oeste) onde ele
permanecia até o fechamento desta edição. Segundo o órgão, ele prestaria
depoimento depois que o Tribunal encaminhasse a gravação da audiência.
Para o magistrado, a testemunha "foi o maior exemplo de falso
testemunho" e agia "como se estivesse levando o depoimento na
brincadeira". O advogado Hans Weberling não quis dar detalhes, mas
tentou minimizar a situação, dizendo que seu cliente não estava sendo
detido, mas apenas "ia ser ouvido" na PF.
Além de Cristiano, outro destaque foi para as testemunhas ligadas à
Associação Musical Lira Nossa Senhora da Conceição, em Capela (Agreste),
cujas declarações também apresentaram suspeitas. A entidade recebeu R$
300 mil em verbas de subvenção do então deputado Adelson Barreto (PTB). O
presidente da entidade, Robério dos Anjos Andrade, alegou que o
dinheiro foi usado em uma reforma na sede, mas a procuradora Eunice
Dantas, do Ministério Público Federal, mostrou fotos da casa citada em
mau estado de conservação, com a presença de cupins. A mulher
encarregada pela obra, Edilene de Jesus Amaral, admitiu no TRE que sacou
um cheque de R$ 300 mil, mas disse que fez isso através de uma mulher
identificada como "Michele", que compareceu a uma agência do Banese em
Capela. O MPF enxergou mais contradições e denunciou Edilene por falso
testemunho.
O terceiro depoimento mais chamativo foi o de Luiz Evilásio da Silva,
responsável pela gestão da Unidade de Saúde Mista Angélica Guimarães,
que leva o nome da ex-presidente da Alese Angélica Guimarães e recebeu,
por indicação dela própria, R$ 580 mil em subvenções. Ele admitiu que
também recebia salários como funcionário comissionado da Assembleia,
mesmo sem exercer função nenhuma na Casa. Eunice Dantas considerou o
fato como uma "irregularidade gravíssima" e não descarta a abertura de
um processo criminal para apurar o caso.
FONTE: http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=16346