sexta-feira, 15 de maio de 2015

SUBVENÇÕES: TESTEMUNHA É CHAMADA DE "LARANJA" E SAI DETIDA DO TRIBUNAL


Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br

A falta de respostas claras em um depoimento causou o momento mais tenso, até agora, do processo que apura o uso irregular das verbas de subvenção da Assembleia Legislativa (Alese), nas eleições do ano passado. Ao fim da tarde de ontem, no último dia de depoimentos das testemunhas de acusação, o juiz relator Fernando Escrivani Stefaniu mandou que a Polícia Federal conduzisse a testemunha Cristiano da Silva Souza, que aparece como sócio de duas empresas beneficiadas com R$ 166 mil pagos pela Associação de Cooperação Agrícola do Estado de Sergipe (Acase), ONG que recebeu R$ 213 mil em subvenções indicadas pelo então deputado estadual João Daniel (PT).

Tudo aconteceu porque ele não soube responder quase nenhuma pergunta sobre a empresa, as atividades dela, as suas funções, os cheques recebidos, os endereços da firma e até quem eram os sócios. A falta de informações e o comportamento indiferente de Cristiano irritaram o juiz Stefaniu. "O senhor não é dono de nada. Não sabe de nada, nem faz nada... O senhor é um laranja. O senhor só vai sair daqui quando me entregar todos os dados da empresa. Daí o senhor tá liberado", disparou Stefaniu, ao em seguida bater uma caneta na mesa e dar uma ordem aos policiais federais: "Leva ele".
Cristiano foi levado da sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SE), no Capucho, até a sede da PF, no Siqueira Campos (zona oeste) onde ele permanecia até o fechamento desta edição. Segundo o órgão, ele prestaria depoimento depois que o Tribunal encaminhasse a gravação da audiência. 

Para o magistrado, a testemunha "foi o maior exemplo de falso testemunho" e agia "como se estivesse levando o depoimento na brincadeira". O advogado Hans Weberling  não quis dar detalhes, mas tentou minimizar a situação, dizendo que seu cliente não estava sendo detido, mas apenas "ia ser ouvido" na PF.

Além de Cristiano, outro destaque foi para as testemunhas ligadas à Associação Musical Lira Nossa Senhora da Conceição, em Capela (Agreste), cujas declarações também apresentaram suspeitas. A entidade recebeu R$ 300 mil em verbas de subvenção do então deputado Adelson Barreto (PTB). O presidente da entidade, Robério dos Anjos Andrade, alegou que o dinheiro foi usado em uma reforma na sede, mas a procuradora Eunice Dantas, do Ministério Público Federal, mostrou fotos da casa citada em mau estado de conservação, com a presença de cupins. A mulher encarregada pela obra, Edilene de Jesus Amaral, admitiu no TRE que sacou um cheque de R$ 300 mil, mas disse que fez isso através de uma mulher identificada como "Michele", que compareceu a uma agência do Banese em Capela. O MPF enxergou mais contradições e denunciou Edilene por falso testemunho.

O terceiro depoimento mais chamativo foi o de Luiz Evilásio da Silva, responsável pela gestão da Unidade de Saúde Mista Angélica Guimarães, que leva o nome da ex-presidente da Alese Angélica Guimarães e recebeu, por indicação dela própria, R$ 580 mil em subvenções. Ele admitiu que também recebia salários como funcionário comissionado da Assembleia, mesmo sem exercer função nenhuma na Casa. Eunice Dantas considerou o fato como uma "irregularidade gravíssima" e não descarta a abertura de um processo criminal para apurar o caso.
FONTE:  http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=16346