Não secar os pés corretamente após o banho favorece o surgimento da frieiraImagem: iStock
Cristina Almeida
Colaboração para o UOL VivaBem
Resumo da notícia
A micose pode afetar qualquer parte do corpo, e quando ocorre nos pés é chamada de frieira.
A causa é a infestação por fungos que se proliferam em ambientes quentes e abafados.
Caso as lesões se transformem em feridas ou fissuras, viram porta de entrada para infecções bacterianas, causadoras de doenças graves.
Após tratamento adequado, o alívio dos sintomas é rápido, mas a terapia pode ser demorada e até ineficaz caso a pessoa não mude hábitos.
A pele é o maior órgão do corpo humano. Por isso, parece incrível que, até 1888, não havia nenhuma descrição na literatura médica sobre essa enfermidade bastante comum entre nós. Estamos falando da tinea pedis, popularmente conhecida como "frieira", "tinha" ou "pé de atleta".
Considerada uma infecção rara no início do século 20, hoje sabemos que a frieira acomete 10% da população mundial. O problema pode se manifestar em qualquer pessoa, mas aqueles que têm seu sistema imunológico comprometido tendem a ser mais vulneráveis.
Altamente contagiosa, a doença está relacionada a fungos que liberam esporos no ambiente e são capazes de sobreviver nas estruturas da proteína encontrada na pele, unhas e cabelos, a chamada queratina.
Por que a frieira acontece?
A frieira é uma micose que se manifesta na pele dos pés, em geral, entre os dedos, mas pode afetar qualquer outra parte do corpo, como as virilhas e o couro cabeludo --nesses outros locais, ela terá outro nome, porém.
A doença decorre da proliferação de fungos, como os dermatófitos (Trichophyton rubrum, em 70% dos casos), que se proliferam com muita facilidade, especialmente em ambientes úmidos e abafados.
Caso você seja um atleta e já relacionou um dos nomes da enfermidade à prática de esportes, saiba que para o seu desenvolvimento é necessária a soma de dois fatores: a presença do fungo e a predisposição para desenvolvê-la.
Pisar descalço em locais contaminados ou compartilhar calçados com pessoas que tenham micose podem desencadear a frieira. Mas outras situações também propiciam a infecção:
Ter os dedos dos pés muito próximos uns dos outros;
Permanecer por longo tempo com o mesmo calçado;
Suar excessivamente nos pés (hiperhidrose);
Usar sapatos sem meias;
Deixar de trocar as meias todos os dias;
Descuidar da higiene dos calçados;
Não secar os pés corretamente após o banho.
Quem precisa estar mais atento
Algumas pessoas, mesmo que sejam suficientemente cuidadosas, poderão estar mais suscetíveis à infecção por terem seu sistema de defesa comprometido. São eles:
Idosos;
Diabéticos;
Transplantados;
Pacientes de câncer em tratamento;
Pessoas com problemas de insuficiência vascular nas pernas.
Como saber se estou com frieira?
O sinal mais conhecido da frieira é aquela fissura que se instala entre os dedos, deixando a pele avermelhada, e que pode até sangrar.
Contudo, é bastante comum o acometimento da sola e da lateral dos pés, o que leva a uma descamação --fina a grosseira -- que, por vezes é interpretada como ressecamento, podendo ou não ser acompanhada de coceira.
"Como essa segunda forma traz menos incômodo ao paciente, ela acaba sendo tolerada por anos, sem nunca ser tratada", afirma John Veasey, do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Características dos sintomas
A depender do tempo da infecção, você também poderá observar estes sinais.
Frieira aguda
É autolimitada, ou seja, pode se resolver sozinha, mas volta;
Na maioria das vezes aparece após atividades que fazem o pé transpirar;
Começa com uma intensa coceira, dor e até bolhas entre os dedos ou na sola dos pés;
Pode apenas aparentar ressecamento ou descamação local.
Frieira crônica
Manifesta-se como uma coceira de intensidade progressiva. A pele fica avermelhada, há descamação e rachaduras;
Aparece primeiro entre os dedos do pé, mas depois se alastra para a sola e as laterais, podendo chegar à parte superior dele.
Quando procurar ajuda médica
O dermatologista é o especialista capacitado para avaliar as alterações da sua pele, cabelos e unhas. Portanto, ao notar qualquer modificação local, ele deve ser consultado.
"Buscar ajuda especializada é da mais alta importância porque, nos casos em que se observam pequenas feridas e fissuras, elas se transformam em porta de entrada para outros agentes (como as bactérias), causadores de doenças mais graves como a erisipela", exemplifica Adriane Reicher Faria, professora de Dermatologia da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
O que esperar da consulta
O diagnóstico é feito por meio de um exame físico, isso é, o médico vai examinar as lesões no consultório. Em alguns casos, um teste complementar pode ser solicitado. Trata-se do exame micológico direto, que nada mais é que a raspagem das lesões para visualização em microscópio.
Como tratar a frieira
O tratamento corresponderá à gravidade do quadro e ao tipo de fungo identificado, bem como à eventual presença de outras doenças. Geralmente, os médicos recomendam antifúngicos tópicos (pomadas, soluções líquidas) e até orais (comprimidos).
A maioria das pessoas apresenta alívio dos sintomas em poucos dias e, em geral, em duas semanas, o problema já se resolveu.
Mas atenção: a terapia poderá ser mais demorada e até ineficaz caso não sejam adotadas mudanças comportamentais com os pés e os calçados.
Dicas para prevenir a frieira ou colaborar com o tratamento
Procure ajuda médica tão logo observe alguma modificação na pele de seus pés.
Evite automedicar-se. Só o médico pode prescrever o melhor tratamento para cada tipo de infecção.
Procure não andar descalço em ambientes reconhecidos como infectados: vestiários e banheiros comunitários, por exemplo.
Lave seus pés com sabonete e bucha, e não apenas com a espuma que escorre durante o banho, especialmente após a prática de esportes.
Garanta que seus pés fiquem completamente secos após o banho.
Use meias de algodão, capazes de absorver a umidade, e somente coloque-as ao certificar-se de que os pés estão secos.
Troque as meias logo que sinta que elas estão sujas ou úmidas.
Mantenha seus calçados em locais arejados antes de guardá-los.
Evite usar botas e calçados sujos e úmidos.
Se usar calçados de couro, prefira os que permitem que seus pés respirem.
Use sandálias ao tomar banho em banheiros comunitários.
Adote o uso de talco antisséptico. A quantidade deve ser suficiente para que, ao chegar em casa, à noite, ainda exista um pouco de talco entre os dedos.
Lave suas roupas em água quente para reduzir as chances de proliferação dos fungos.
Fontes: John Veasey, médico dermatologista, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e responsável pelo Ambulatório de Micoses Superficiais e pelo Laboratório de Micologia do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; Adriane Reicher Faria, médica dermatologista, professora de dermatologia da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e doutora em ciências da saúde pela mesma instituição; André Lauth, médico dermatologista e membro da SBD (PR).
Referências:
- Ilkit, Macit & Durdu, Murat. (2014). Tinea pedis: The etiology and global epidemiology of a common fungal infection. Critical reviews in microbiology. 41. 10.3109/1040841X.2013.856853.
- Pramod K. Nigam; Tony I. Oliver; Sameh W. Boktor. Tinea Pedis. Bookshelf. NCBI. Last Update: April 8, 2019.