Quando os filhos chegam à adolescência, um assunto que pode ser desconfortável para os pais se torna inevitável: a vida sexual deles. E mais, deixar ou não eles transarem dentro de casa? “Em nossa cultura, sexo faz parte do privado. Do mesmo jeito que os pais ficam desconfortáveis em ter relações quando os filhos estão em casa, saber que eles podem estar transando no quarto ao lado pode ser uma situação constrangedora”, conta Maria Cristina Romualdo
Oportunidade de educar
Segundo a psicóloga Renata Bento, deixar o adolescente transar em casa é uma chance de pensar sobre a sexualidade dos filhos e conversar com eles sobre isso. “Dialogar sobre sexo é bastante saudável e importante para tratar de temas como gravidez indesejada, DSTs e sexo seguro”, diz.
Encarando os fatos
Há pais que não veem qualquer problema em deixar seus filhos à vontade, acreditando que essa é uma maneira segura de transar, já que não estão correndo riscos em outros ambientes. É o caso da psicóloga Patrícia Bernardete, 44 anos, que sempre deixou seu filho levar parceiras para casa. Hoje, ele tem 18 anos, mas ela permite desde os 16. E nem precisa estar namorando sério. “Na época, ele apenas me pediu para trazer a menina em casa e eu deixei. Depois, me contou que eles haviam transado no quarto. Só perguntei se tinham usado preservativos”, conta. “Agora, ele está com uma ficante e já me perguntou se pode trazê-la também. Eu, mais uma vez, disse que sim, continuando com as mesmas orientações. Até banho em casa elas tomam, acho isso muito normal, pois vejo o sexo responsável como saudável. E depois, vão fazer onde se não for em casa?”, diz.
Regras, sempre elas...
Determinar alguns limites para o adolescente que quer transar em casa ajuda a evitar desconfortos. A partir do momento que os pais decidem que o melhor a fazer é liberar, podem estabelecer o que é aceitável ou não. “É aconselhável determinar normas de convívio, até que ponto a liberdade de um pode invadir o espaço do outro. Isso pode evitar discussões futuras. Mas vale lembrar que o caminho se faz caminhando, por isso, à medida que essa nova realidade passe a existir na vida familiar, prováveis ajustes poderão ser feitos”, diz Maria Cristina.
O combinado não sai caro
A secretária executiva Keith Góes, de 41 anos, também deixa a filha adolescente trazer o namorado para casa. “Ela já me disse que eles transam, mas se não fosse em casa, seria em qualquer outro lugar, então, o que vou fazer? Não posso colocá-la numa bolha e vestir a capa de mãe superprotetora, só posso orientar”, diz. O pai também sabe e concorda com o ponto de vista de Keith. “Ela sempre contou tudo o que acontecia a nós dois - desde o despertar do interesse pelos meninos, o primeiro beijo, e agora sobre sua vida sexual”. As regras são bem conversadas e a filha sempre pergunta a opinião da mãe. “Nós discutimos algumas coisas juntas, por exemplo, a frequência dele dormir na minha casa. Porque se deixar, ele vira meu inquilino”, fala.
Aqui, não!
Mas e quando os pais não permitem que os filhos transem em casa? Devem apenas dizer “não” e encerrar o assunto? Para a orientadora sexual, se os pais proíbem, precisam justificar aos filhos, pois a casa também é deles. “Às vezes, uma única conversa não é suficiente e a família deve retomar a discussão até que um consenso seja atingido”, diz. A coordenadora Sonia da Silva, 51 anos, não gosta da ideia de os filhos transarem em casa, porque isso tiraria sua privacidade. “Não é que eu impeço que eles transem, mas aqui não quero. Se namorada ou namorado dormir aqui, vai ser em outro quarto”, conta. Ela diz que não houve uma conversa oficial com os filhos, mas seus avisos já mostraram que essa era sua opinião.
Quando falar...
A conversa entre pais e filhos, em um mundo ideal, deveria acontecer antes da primeira relação sexual deles. Para isso, é bom estar consciente de que, sim, os adolescentes vão querer transar em algum momento e é papel dos adultos orientar. “É importante lembrar para os filhos que sexo é uma coisa boa, prazerosa, mas exige responsabilidade”, finaliza Renata.
Carolina Prado e Marina Oliveira
Colaboração para o UOL