A dor ou a rigidez relacionada aos atos sexuais também tendem a dar origem a uma espiral descendente de preocupações e medos relacionados à sexualidade, o que agrava ainda mais o problema, reduzindo o desejo e o prazer do sexo.
A equipe de pesquisa da Universidade de Almeria, na Espanha, usou uma abordagem qualitativa para estudar a sexualidade entre mulheres com fibromialgia. Um “focus group” e entrevistas semiestruturadas foram realizadas com 13 mulheres com fibromialgia, onde diversos aspectos da saúde sexual foram abordados.
Não surpreendentemente, a dor e a rigidez foram fatores que desempenharam papéis importantes na interferência com as atividades sexuais, informaram as mulheres. As mulheres também relataram que o sexo e até mesmo as preliminares provocaram lesões na pele e contusões. A dor pode ser sentida antes, durante e após o sexo, e às vezes impediu as mulheres de futuras atividades sexuais.
A resposta anormal da dor na fibromialgia, em que um toque leve pode produzir dor intensa, nem sempre é entendida pelos parceiros, complicando as relações sexuais. E a rigidez após a relação sexual pode ser tão grave que impede as mulheres de urinar, o estudo mostrou.
Alguns medicamentos também pioram a situação aumentando a secura vaginal ou reduzindo o desejo sexual. Mulheres com mais de 45 anos podem, no entanto, também experimentar esses sintomas devido à sua doença, uma vez que a fibromialgia está ligada a uma menopausa precoce.
As mulheres participantes também mencionaram mudanças corporais e uma autoimagem negativa como fatores que contribuem para uma saúde sexual ruim.
O estudo mostrou que a maioria das mulheres pensava em sexualidade como parte de uma estratégia de enfrentamento. As mulheres tentavam levar uma vida tão normal quanto possível, inclusive em relação à sua sexualidade. No oposto do espectro, havia mulheres que perderam todo interesse pelo sexo.
Mas a importância do sexo não era constante. As mulheres declararam que experimentavam períodos de crise quando sentiam desejos particularmente baixos. Durante esses períodos, caracterizados por mais dor e depressão, não queriam manter relações sexuais. Fatores esses que muitas vezes levavam a relações tensas.
Algumas das mulheres relataram que viam o sexo como uma parte crucial para manter uma relação, e estavam empenhadas ter relações sexuais para agradar seus parceiros. De acordo com o estudo, isso pode não ter o efeito pretendido. A percepção pelos parceiros da falta de prazer, levando a um sentimento de culpa e frustração, pode prejudicar os relacionamentos.
Mas, apesar das dificuldades, muitas mulheres procuravam ativamente opções para melhorar a situação. Algumas se concentraram mais em preliminares para permitirem-se relaxar, enquanto outras buscavam encontrar posições sexuais que não levassem à dor, e outras falaram do exercício físico como forma de melhorar sua vida sexual.
A falta de compreensão foi mencionada em vários pontos do estudo e, portanto, um foco na comunicação também pode aliviar os problemas, sugeriram os pesquisadores. Embora os pesquisadores tenham abordado várias limitações do estudo, eles ressaltaram que muito pode ser feito para melhorar a saúde sexual entre as mulheres com fibromialgia, incluindo o aconselhamento em técnicas de relaxamento e programas de exercícios.
Os autores escreveram que: "Apesar das limitações, a sexualidade é importante para a identidade e a qualidade de vida das mulheres com fibromialgia. Juntamente com a sintomatologia física, a culpa, o medo e a falta de entendimento comprometem o processo de enfrentamento. As mulheres precisam do apoio de seus parceiros, do ambiente sócio familiar e dos profissionais de saúde ".
A equipe sugeriu que mais pesquisas são necessárias para entender a saúde sexual, bem como maneiras de melhorá-la, entre esses pacientes.
Fonte: Matarín Jiménez TM, Fernández-Sola C e cols. Perceptions about the sexuality of women with fibromyalgia syndrome: a phenomenological study.