Esses dias me peguei pensando sobre como, apesar da correria diária, das preocupações que nos assolam
Esses dias me peguei pensando sobre como, apesar da correria diária, das preocupações que nos assolam e da efemeridade das relações atuais, sempre há uma paixão... um amor que fica?!
Não é banal, não é superficial. É profundo, real e deixa marcas. Geralmente é um amor de adolescente, aquele que enquanto vivido não foi valorizado. Mas que, com o passar dos anos, ao olharmos para trás, vemos com um olhar mais maduro, que merecia um certo cuidado. Merecia mais paciência, menos impulsividade. Todo mundo tem aquele amor que fica, aquela saudade que bate ao ouvir certas músicas. Uma característica muito forte dos enamorados é essa de ter sempre uma música que descreve exatamente a sensação em que se vive, e que traz a lembrança imediata do rosto e de momentos vividos com “aquela pessoa”.
A boa notícia é que esses amores muitas vezes se solidificam, conheço alguns pares que se conheceram ainda na adolescência e conseguiram superar todos os desafios impostos pela vida e pelo tempo, e juntos estão até hoje.
A péssima notícia é que nem todos os casais que verdadeiramente se amaram conseguiram ficar juntos, seja lá pelo que for, e aquela sensação de bem-estar que o outro te causa NUNCA PASSA. Já vi casos em que ambos seguiram suas vidas em diferentes caminhos e com outras pessoas, porém, nunca deixaram de se amar. O tempo passa, a distância só aumenta, a vida às vezes até dá umas voltas e os coloca de frente novamente. Mas, sabe quando você sente que já não é mais a mesma coisa?! Pessoas mudam, o tempo passa, elas amadurecem. Nunca mais serão os mesmos. Apegamo-nos à imagem da pessoa que conhecemos lá atrás e, para não destruí-la, mantemos distância. A distância é a forma que encontramos para proteger a admiração e carinho que temos pela pessoa. Há quem diga que amor eterno são apenas os de pais para filhos. Mas acredito que não. Existem amores eternos, sim! Existem momentos que vivemos com determinadas pessoas, que se eternizam e que, vez ou outra, visitamos essas lembranças. Às vezes até nos emocionamos, sentimos profunda vontade de voltar no tempo e reviver, sentir de novo o frio na espinha, as borboletas na barriga e as pernas bambas. Nostalgia pura. Mas sem dor, compreendendo que há um momento oportuno para cada coisa. E que as coisas acontecem no tempo em que devem acontecer, de modo que quem não nos acompanhou teve algum motivo para não estar em nossas vidas. Esse amor que ficou, ele não costuma machucar, serve apenas de modelo para relacionamentos futuros. Erros que não devemos cometer novamente, acertos que precisamos aprimorar e repetir. Processo evolutivo natural das coisas.
Há quem sinta dor ao falar de determinado amor que se perdeu, nesse caso, arrisco-me a opinar... Acredito que toda e qualquer mágoa passada precisa ser resolvida. É como uma pendência que te aprisiona, é necessário que se diga o que sente, sempre. Dessa maneira, é mais fácil seguir em frente, sem carregar monstros do passado. Ainda que não haja aceitação do outro, diga. As pessoas precisam saber o que sentimos e pensamos a respeito delas, é a atitude mais honesta a ser tomada diante de situações assim.
Em tempos líquidos, é natural que tudo se perca com mais facilidade. Raro mesmo é quem consegue ser sólido e enfrentar todas as adversidades segurando a mão do outro. E que tudo ocorra de maneira leve, que os reencontros se façam no momento mais propício, onde ambos estejam com a cabeça mais tranquila, mais madura e com o coração mais seguro. A leveza dos reencontros faz bem para saúde, nos causa efeitos colaterais como os de outrora, e nos deixa mais certos de que existe, sim, o que alguns chamam de “destino”, outros de “amor verdadeiro”. E quando esse momento chegar, não sinta medo. Se houver sentimentos reais, diante de anos passados, não há como dar errado.
Se te causa ansiedade, dor de barriga e borboletas no estômago, depois de tanto tempo... Não se preocupe com o que virá depois, apenas viva. Absorva o que de melhor o momento possa te proporcionar, sem culpa, sem cobrança. Te asseguro que como antes nunca será, corre-se o risco de ser pior. Mas também existe a possibilidade de ser infinitamente melhor. A cada novo encontro, somos uma nova pessoa, isso é inegável e inevitável. Mas, viver carregando o peso de coisas não ditas, e não vividas, é dolorido. Então, se um dia tiver a oportunidade de vivenciar tudo o que não deu tempo lá atrás, vá sem medo. Porque ainda que a gente afirme veementemente que o passado não nos influencia e já não significa mais nada, volta e meia a gente se engana.
Fonte: jmonline