quarta-feira, 3 de abril de 2019

Máfia dos Shows: “fomos pra cima dos mafiosos que enriqueceram às custas do dinheiro público”, declarou Cabo Amintas



A noite de ontem, segunda-feira, 1, foi marcada pela exibição da reportagem que todo sergipano ansiava: a investigação sobre a máfia de shows em Sergipe feita por Roberto Cabrini. Como uma prévia do que viria a seguir, Cabo Amintas dedicou o programa “Nas Ruas”, exibido em suas páginas no Facebook e Instagram, para falar sobre seu depoimento ao repórter paulista.

“Expusemos toda a verdade sobre a máfia de shows que existe aqui em Sergipe. Junto a alguns artistas corajosos, àqueles que querem o melhor para Sergipe, mostramos o que realmente acontece. Não adianta vir com ‘blablabla’, nem historinha, muita gente querendo ‘ser o pai da criança’. Nós demos a cara a bater e fomos pra cima dos mafiosos que enriqueceram às custas do dinheiro público. Fomos pra cima dos bandidos que simplesmente desviavam dinheiro em festas, utilizando os artistas sergipanos, utilizando a cultura popular, para roubar o dinheiro do povo”, afirmou.

Ainda no início da reportagem, Cabrini comentou o esquema de segurança que protege Amintas e questionou a quem ele temia. A resposta foi enfática. “A Teo Santana e a quadrilha dele”.

Quando Cabrini perguntou quem era Cabo Amintas, o militar na reserva não titubeou. Além de falar seu perfil, ainda apontou a política como fonte de crimes. “Sou vereador de primeiro mandato, sou policial militar há 26 anos, e nunca imaginei que o crime maior estivesse na política brasileira, principalmente na política sergipana, que hoje conheço um pouco por dentro”, afirmou.

O vereador, que no passado teve uma banda de forró, ressaltou as propostas que já recebeu. “Propostas de todos os tipos. Eles contratavam shows, quatro shows, por exemplo, e diziam: ‘olha, eu vou te pagar adiantado mas preciso que você assine outro valor’. Graças a Deus nunca participei dessas coisas, nunca aceitei assinar um valor que não recebesse”, declarou.

Sobre o esquema, Cabo Amintas não escondeu o que sabia. “A corrupção dos shows em Sergipe banca políticos no nosso estado. Banca políticos! Existem prefeituras onde aconteciam eventos... Vou dar como exemplo a de Carmópolis. Nesta prefeitura, eu verifiquei que na última festa de emancipação política da cidade se gastou aproximadamente 400 mil reais. Essa mesma festa, quando foi feita por esse cartel, há dois anos, o valor gasto foi de 2 milhões de reais. Pra onde foram esses 2 milhões de reais?”, questionou.

E completou “existem artistas em Sergipe que assinam porque senão não tocam, eles passam fome. Os peixes grandes são os políticos sergipanos! Eu posso dizer, sem medo de errar, diante do que tenho passado, não sei nem se quando essa entrevista for ao ar eu vou estar vivo. Por causa dessa máfia de shows”.

Questionado sobre quem faria parte da suposta máfia, Amintas foi incisivo. “Teo Santana e a família dele”. O parlamentar ainda citou o irmão de Teo, Jorge, que segundo ele, era sócio-administrador da empresa autointitulada Teo Santana. Outro irmão, hoje secretário da prefeitura mas com passagem pela direção de marketing da Petrobras, era diretor da Fundação Municipal de Formação para o Trabalho (Fundat), que presidia o pregão. Ou seja, de acordo com o parlamentar, essa situação proporcionava o favorecimento de Teo nas licitações.

“O irmão dele, Luiz Roberto, na época que cuidava do marketing da Petrobras, era o homem do patrocínio. Conversando com algumas pessoas do ramo, vi que as coisas aconteciam da seguinte forma. Você é o prefeito da cidade, eu sou o dono da empresa, o chefe do cartel, o chefe do esquema, da quadrilha. Então eu lhe procuro e digo: ‘o seu São João precisa de patrocínio, não é?’. As prefeituras alegam que estão em crise... Então o prefeito diz que precisa. E é aí que entra, você acaba forçando o prefeito a fechar com a empresa de Téo Santana porque a prefeitura precisa de patrocínio”, explicou.

Cabrini, por fim, perguntou se os prefeitos recebiam alguma participação financeira aceitando a situação, ao que Amintas confirmou. “Estamos falando de muito dinheiro?”, questionou o repórter. “Muito dinheiro!”, confirmou o parlamentar.

Nitinho x Amintas

Em outro momento, Cabo Amintas falou sobre sua iniciativa de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as denúncias sobre o assunto mas foi impedido pelo presidente da Câmara Municipal de Aracaju (CMA), Nitinho Vitale (PSD).

Em imagens feitas por uma câmera escondida, o presidente da Casa Legislativa incentiva o militar a desistir do assunto.

Nitinho: Você fez alguma coisa com Teo Santana?
Cabo Amintas: Meu filho, com Teo... Sabe quando foi a última vez que falei com Teo? Antes do São João.
Nitinho: Deixa eu falar uma coisa para você. Lhe peço, coisa de amigo, deixe isso pra lá que isso não vai dar em nada. Esqueça de tudo isso.

De frente com Cabrini, Cabo Amintas ainda acusou Nitinho Vitale de corrupção. “Na última gestão, ele estava a frente da Funcaju, que é uma empresa que trata da cultura, dos eventos, dos shows. Só Teo Santana ganhava! Ele é amigo íntimo de Teo Santana, amigo inclusive porque fizeram negócios juntos. Eles sabem que nós vamos descobrir tudo. Na verdade, descoberto já está. Só se precisa que Sergipe tenha coragem e acabe com isso”, salientou.
Agressivo?

Ainda durante a entrevista com Cabo Amintas, Roberto Cabrini recebeu uma mensagem que acusava o parlamentar de responder a diversos processos, extorquir empresários, além de ser violento e agressivo.

Questionado sobre o que existia de verdade na mensagem, Amintas não recuou. “Talvez a parte que fala ‘violento e agressivo’ eu fui. Cabrini, eu nunca fui santo. Eu sou um homem de rua. Talvez tenha sido violento e agressivo. Eu fui um policial de rua. Nunca joguei devagar com vagabundo, nunca!”, disse.

“E como explica o fato de eu ter recebido essa mensagem?”, questionou Cabrini. “Esse é só mais um bandido a mando de Teo Santana”, arrematou.