Dor na virilha costuma ser comum em atletas, mas sedentários e pessoas com excesso de peso também podem ter o problemaImagem: iStock
Cristina Almeida
Colaboração para o UOL VivaBem
Resumo da notícia
Dor na virilha, na maioria das vezes, está relacionada a alguma lesão decorrente de atividade física.
Repouso, anti-inflamatório e analgésico fazem parte do tratamento, que inclui também fisioterapia.
A melhor forma de prevenção é adequar a prática esportiva para sua idade e condicionamento.
Quem joga futebol, pratica corrida ou outro esporte provavelmente já sentiu, em algum momento, uma fisgada na virilha. Considerada bastante comum entre os atletas, a dor na virilha também pode acometer os sedentários, pessoas com excesso de peso ou aqueles que apresentam rigidez na região do quadril ou coluna.
O incômodo é mais comum entre os homens, mas mulheres (especialmente gestantes), adolescentes, crianças e idosos podem apresentar esta queixa.
Por que isso acontece?
A dor na virilha geralmente aparece após um movimento de torção ou estiramento muscular durante a prática de atividade física. Mas outros fatores podem estar relacionados.
- Causas esqueléticas: fraturas por traumas decorrentes de estresse envolvendo estruturas da região inguinal (ossos, cartilagens e processos degenerativos como a artrose, entre outros).
- Causas não ósseas: lesões de ordem muscular (contratura ou estiramento) que podem decorrer até de um desequilíbrio ou excesso de treino, doenças dos tendões (tendinopatias) e inflamações (bursites).
- Causas extra-articulares: doenças nos joelhos, degeneração do púbis (pubalgia), problemas lombares, alterações mecânicas funcionais que levam ao desequilíbrio de forças entre os grupos musculares.
- Causas não mecânicas: doenças reumáticas, infecções, câncer, cisto ovariano, hérnias inguinais (um avanço de parte do intestino por meio de uma abertura da parede do abdome), infecções ou pedras nos rins e fibromialgia.
Como reconhecer a dor
A depender da causa, ela terá características próprias, e cada pessoa poderá senti-la a seu modo. Na maioria das vezes, entretanto, relata-se uma pontada na parte superior da coxa, que pode avançar para a região ao seu redor.
Em casos mais complicados, a sensação dolorosa irradiará para a parte anterior ou lateral da coxa. Alguns pacientes ainda descrevem incômodo na região inguinal, nas nádegas, irradiação para os joelhos, coluna lombar, osso sacro. Junto à dor pode haver limitação de movimentos. Você também poderá observar:
Sensibilidade, ardor ou inchaço locais;
Dor ao tossir ou espirrar;
Sensação de fraqueza muscular dias após o evento que pode ter sido a causa da lesão.
Quando procurar ajuda
O conselho dos especialistas é que, ao perceber este quadro, sem que haja uma melhora após 48 horas de um treino ou a prática de seu esporte, a melhor coisa a fazer é procurar ajuda médica.
Para Leonardo Addêo Ramos, ortopedista e especialista em medicina do esporte do Hospital Samaritano de São Paulo, qualquer dor que altera o rendimento, não melhora com analgésico e está afetando as atividades diárias precisa ser investigada, sob pena de se tornar crônica, o que demandará mais tempo para eventual recuperação.
Na hora da dor aguda, aquela que aparece de repente, o clínico geral está apto para avaliar o problema. Caso ela já tenha se instalado e dura há mais de 2 meses, um ortopedista especializado em quadril ou em medicina do esporte são os mais indicados para avaliá-lo.
Como é feito o diagnóstico
Durante a consulta, o médico irá ouvir sua história e fazer o exame físico. Podem ser solicitados exames complementares como radiografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, que é considerada o teste mais eficaz para o estudo dos tecidos moles, isto é, músculos, tendões, ligamentos e cartilagens. Se houver suspeita de que a origem da dor não seja mecânica, outros exames laboratoriais podem ser solicitados.
O que esperar do tratamento
De acordo com Paulo Silva, ortopedista especialista em cirurgia do quadril do Hospital Estadual Geral de Goiânia, a depender do diagnóstico, a abordagem terapêutica terá como objetivo a melhora da dor e da qualidade de vida, bem como o restabelecimento dos movimentos normais da articulação.
Nos casos que resultam de alteração mecânica funcional, com desequilíbrio de força, o tratamento é do tipo conservador, ou seja, prescrevem-se repouso, analgésicos e anti-inflamatórios, e indica-se reabilitação que deverá ser realizada com o apoio de um fisioterapeuta.
Uma boa estratégia é colocar em prática as técnicas disponíveis para o alívio da dor, como uso de eletroterapia (TENS - Estimulação Elétrica Transcutânea do Nervo, laser e ultrassom), crioterapia (gelo), calor, massagem e fortalecimento muscular progressivo, acredita Leandro Zen Karam, professor do curso de fisioterapia da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
O paciente também será orientado sobre as melhores condições para o retorno às atividades, o que pode ocorrer de um a dois meses, conforme a gravidade da lesão.
Já quando a origem do incômodo decorre do desgaste natural da articulação, como a artrite, muito comum entre pacientes com mais de 70 anos, a melhor terapia é a substituição articular por meio de cirurgia.
Entre os jovens, a solução cirúrgica também é considerada o tratamento mais eficaz nos casos de lesão labral (afeta o quadril e está relacionado ao seu movimento, especialmente se você pratica esportes que demandam rotação da região - como as artes marciais, futebol, rugby, golfe, tênis, dança etc.).
Veja o que você pode fazer para ajudar no tratamento ou prevenir outras lesões:
Procure ajuda médica logo que perceber que a dor não passa;
Caso a dor seja recente (começou há 24 horas), faça compressa com gelo por cinco minutos. A medida pode ser repetida a cada duas ou três horas. Proteja a pele do gelo usando uma toalha;
Depois de uma crise, mantenha-se ativo, inclusive treinando. A região afetada deve ser poupada até segunda ordem, mas você pode exercitar outros músculos;
Capriche no aquecimento ao exercitar-se;
Adeque a prática física à sua idade e condicionamento;
Peça ajuda ao treinador para equilibrar melhor as séries de seus exercícios, especialmente se você está grávida e deseja manter a prática física. Crianças e adolescentes também devem estar mais atentos;
Avalie com seu médico quais são as melhores opções de calçados e até os melhores pisos para a prática de seu esporte;
Evite o movimento que provoca a dor --isso vale para a vida inteira, não só na hora do treino;
Atente-se a práticas esportivas esporádicas. Se você nunca joga futebol, por exemplo, a chance de ter uma lesão na virilha é grande. Evite excessos.
Exercícios de fortalecimento que ajudam a reduzir dores
Após 48 horas do início da dor você já pode potencializar a reabilitação com a série de exercícios a seguir. Eles melhoram o movimento e, gradualmente, fortalecem os músculos da região da virilha. Caso sinta que os exercícios estão piorando a dor, reduza o número de repetições
Imagem: Reprodução/ NHS Foundation Trust1. Deite-se com as costas apoiadas no chão. Mantenha os braços ao lado do corpo e as mãos encostadas no solo. Estenda as pernas. Flexione o joelho direito e aproxime o pé do glúteo. Volte para a posição inicial. Realize 10 repetições com a perna direta. Depois execute o exercício novamente com a outra perna.
Imagem: Reprodução/ NHS Foundation Trust2. Deitado de lado, apoie a cabeça no braço esquerdo. Alinhe o corpo, mantenha as pernas unidas e os pés retos. Levante a perna direita e volte à posição inicial. Certifique-se de manter o corpo alinhado, equilibrando-se com o braço à frente. Faça 10 repetições, mude de lado e execute o movimento com a outra perna.
Imagem: Reprodução/ NHS Foundation Trust3. Fique sentado na beirada da cama ou de um banco alto. Deixe os braços estendidos ao lado do corpo e apoie as mãos. Contraia o abdome e mantenha a coluna reta. Coloque uma bola entre os joelhos. Feche as pernas e pressione a bola durante 5 segundos. Relaxe e retorne para a posição inicial. Execute 10 repetições.
Imagem: Reprodução/ NHS Foundation Trust4. Deite-se com as costas apoiadas no chão. Deixe os braços estendidos ao lado do corpo e fique olhando para cima. Mantenha as pernas esticadas e unidas. A ponta dos pés deve ficar vira para cima. Essa é a posição inicial. Afaste as pernas lentamente. Retorne devagar para a posição inicial. Execute 10 repetições.
Imagem: Reprodução/ NHS Foundation Trust5. Sente-se em uma cadeira e mantenha as costas no apoio. Segure nos braços da cadeira. Deixe os pés apoiados no chão e os joelhos flexionados a 90 graus. Levante a perna direita, mantendo-a dobrada, e leve o joelho em direção ao peito. Mantenha-se nessa posição por 5 segundos. Retorne à posição inicial. Faça 10 repetições e depois execute o exercício com a perna esquerda.
Fontes: Paulo Silva, médico ortopedista especialista em cirurgia do quadril, membro titular da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e SBQ (Sociedade Brasileira de Quadril), coordenador do Grupo de Cirurgia do Quadril do HGG (Hospital Estadual Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi); Leonardo Addêo Ramos, médico ortopedista e médico do esporte, membro da equipe do Laboratório de Medicina do Esporte do Hospital Samaritano de São Paulo, docente da disciplina de medicina do esporte da Faculdade de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Leandro Zen Karam, professor assistente do curso de fisioterapia da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e fisioterapeuta de atletas do UFC (Ultimate Fighting Championship). Consultoria para os exercícios: Vivian Diniz, fisioterapeuta especializada em RPG e Pilates, diretora do estúdio que leva seu nome. Revisão técnica: Paulo Silva.
Referências:
- Matheus O Almeida, Brenda NG Silva, Régis B Andriolo, Álvaro N Atallah, Maria S Pecci. Conservative interventions for treating exercise?related musculotendinous, ligamentous and osseous groin pain . Cochrane Systematic Review -Intervention Version published: 06 June 2013.
- King E, Ward J, Small L, et al. Athletic groin pain: a systematic review and meta-analysis of surgical versus physical therapy rehabilitation outcomes. Br J Sports Med 2015;49:1447-1451.