Viroses não têm tratamento específico e geralmente passam após três a dez diasImagem: Getty Images
Tatiana Pronin
Colaboração para o UOL VivaBem
Resumo da notícia
O termo "virose" costuma ser usado para designar infecções no trato respiratório alto ou gastrointestinal
O problema é muito frequente e na maioria das vezes não traz grandes complicações
Não há medicamentos específicos para tratar as viroses mais comuns e o quadro costuma melhorar após alguns dias
Na maior parte das vezes, o tratamento se resume à hidratação, descanso e remédios para alívio dos sintomas
Você está com dor de cabeça, nariz entupido, fraqueza e um pouco de febre, ou então tem diarreia e náusea, e decide ir ao pronto-socorro. Ao chegar lá, ouve que "é só uma virose". A frase é tão comum que muita gente chega até a achar que médicos dão o diagnóstico quando não sabem direito o que o paciente tem, mas não é bem assim.
Todas as infecções provocadas por vírus podem ser chamadas de viroses, como gripe (causada pelo influenza), HIV, HPV, herpes, dengue, zika e chikungunya. Esses agentes infecciosos podem ser transmitidos por gotículas lançadas ao ar, pela saliva, pelas fezes, pelo contato com fluido sexual e por picadas de insetos. Porém, de forma geral, o termo "virose" é utilizado para designar um conjunto de infecções agudas no trato respiratório ou gastrointestinal que são muito frequentes e se resolvem sozinhas após alguns dias, apenas com alguns cuidados gerais e para as quais não se costuma identificar um vírus específico. Assim, se você tiver uma doença viral mais séria dificilmente vai ouvir essa designação genérica.
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Não existem remédios específicos para essas viroses mais frequentes, em parte porque o próprio organismo se encarrega de combatê-las sozinho. Por isso mesmo, não faz sentido o médico solicitar exames específicos para a identificação viral, a não ser quando é preciso descartar alguma doença que pode ter complicações e/ou que precisa ser monitorada pelas autoridades de saúde, como gripe, sarampo, dengue e chikungunya, entre outras.
Viroses no trato respiratório
Existem mais de 200 vírus capazes de causar sintomas no aparelho respiratório, como os rinovírus, os adenovírus e o vírus sincicial. Esses micro-organismos podem ser transmitidos pelo ar, quando gotículas são lançadas pelo infectado ao tossir ou espirrar, ou por contato, quando os vírus presentes na mão ou nas secreções contaminam objetos como corrimões, maçanetas, controles remotos etc. Esse tipo de virose costuma ser mais comum no frio, nas regiões de clima temperado, e apresentar um padrão mais incerto nas regiões tropicais.
Viroses intestinais
Já os vírus que mais atacam o sistema gastrointestinal são transmitidos por água ou alimentos contaminados por fezes. Muitas vezes isso acontece porque as pessoas não lavam as mãos antes das refeições ou de preparar a comida. Essas infecções costumam ser causadas por norovírus, rotavírus, astrovírus ou adenovírus, e são mais frequentes no verão, embora possam ocorrer na maior parte do ano.
Será que é gripe?
A gripe é causada pelos vírus influenza A ou B, que sofrem mutações a cada temporada. É comum haver confusão entre gripe e resfriado, mas a primeira tem manifestações bem mais intensas e exige cuidados porque pode causar pneumonia.
Os sintomas da gripe são febre alta (acima de 38 graus), seguida de dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça, nariz congestionado e tosse seca. Em geral os sintomas respiratórios ficam mais evidentes com a progressão da doença e se mantêm por três a cinco dias depois que a febre diminui. Já o resfriado comum costuma se limitar aos sintomas de coriza, obstrução nasal e tosse. Vale lembrar que existe vacina contra a gripe.
Infecções virais são mais comuns que as bacterianas?
Sim. Os vírus são estruturas microscópicas acelulares (que não possuem célula), por isso dependem das células do hospedeiro para se multiplicar. Ou seja: eles são partículas que atuam como parasitas. Embora as bactérias também sejam invisíveis a olho nu, elas são bem maiores que os vírus. As infecções virais são mais frequentes no ser humano porque são mais fáceis de ser transmitidas. Estima-se que elas sejam responsáveis por 90% de todas as infecções.
Por que os vírus atacam certas regiões e não outras?
Existe uma variedade enorme de vírus, sendo que cada tipo apresenta uma espécie de preferência por determinada parte do corpo, algo que os médicos chamam de "tropismo" e tem a ver com a evolução e as estratégias de adaptação de cada micro-organismo. Alguns preferem o trato respiratório ou digestivo, enquanto outros atacam a pele, os olhos, o fígado, o sistema nervoso e assim por diante. Um mesmo vírus eventualmente pode afetar regiões diferentes, como alguns adenovírus ou enterovírus.
Quais os mais perigosos: vírus ou bactérias?
Tudo depende do agente infeccioso e da imunidade individual de cada pessoa. Algumas infecções virais podem causar complicações graves, como é o caso do influenza, o vírus do sarampo, da febre amarela, da poliomielite, da hepatite, da Aids, entre outros. Certos quadros virais também podem deixar o organismo mais vulnerável a uma infecção bacteriana.
Sintomas
As manifestações mais comuns das viroses que afetam o sistema respiratório são:
Febre de intensidade variável;
Mal-estar;
Nariz escorrendo ou congestionado (coriza);
Dores no corpo ou na cabeça;
Tosse ou irritação na garganta;
Perda de apetite;
Alguns desses vírus também podem estar envolvidos no desenvolvimento de sinusite, amidalite, faringite, laringite ou otite.
Já as viroses gastrointestinais podem causar:
Febre (nem sempre presente);
Enjoo;
Vômito;
Diarreia;
Dor de barriga;
Perda de apetite;
Quando ir ao médico?
Sempre é recomendável a avaliação médica, sobretudo se os sintomas no trato respiratório prejudicarem o sono e a alimentação, se agravarem ou mesmo se forem leves, mas não passarem após alguns dias. Em caso de febre alta, dificuldade para respirar, vômitos ou diarreia forte que não passa em 24 horas é recomendável ir ao pronto-socorro, especialmente se o paciente for criança, idoso, gestante ou tiver alguma doença crônica.
Quando tempo dura uma virose?
Em geral, as viroses respiratórias e gastrointestinais duram de três a dez dias.
Diagnóstico
Em geral, o diagnóstico é clínico, ou seja, o médico consegue identificar a virose só com base nos sintomas, exame físico e histórico do paciente. Exames para detectar o vírus envolvido só são realizados quando os sintomas são mais graves, ou quando há necessidade de se descartar outra doença ou monitorar algum surto. Isso pode ser feito com uma sorologia (que identifica anticorpos para alguns tipos de micro-organismos), ou por técnicas de reação em cadeia de polimerase (PCR), um teste mais rápido --e mais caro.
Como tratar
Não existe tratamento específico para viroses comuns como as que causam resfriados ou diarreias. A recomendação é:
Tomar bastante líquido, como água e sucos;
Descansar e se alimentar de forma saudável para evitar a desidratação e ajudar o organismo a combater a doença.
Se necessário, medicamentos podem ser prescritos para alívio dos sintomas, como febre, dores, enjoo e congestão nasal. A inalação também pode ser útil em caso de tosse. Antibióticos não funcionam contra as viroses, por isso só devem ser prescritos se houver suspeita de infecção por bactéria.
Como o médico sabe é vírus ou bactéria?
Sinusites, bronquites, conjuntivites e otites podem ser causados tanto por vírus quanto por bactérias, mas o médico é capaz de diferenciar as causas com base em alguns parâmetros, como a mudança do aspecto das secreções, a duração dos sintomas, ressurgimento de febre, o histórico do paciente, a época do ano e casos semelhantes atendidos naquela região.
Como prevenir viroses?
Não há vacinas específicas para as viroses mais comuns que acometem o trato respiratório e digestivo. A imunização existe apenas para vírus que causam doenças mais graves, como a gripe e o rotavírus causador da diarreia infantil, o sarampo, a catapora, a rubéola e a febre amarela. Os principais cuidados para se evitar as infeções são:
Procure não deixar as janelas completamente fechadas, procure arejar o ambiente;
Lave as mãos com frequência, especialmente antes das refeições, após ir ao banheiro, antes de cozinhar e depois de assoar o nariz;
Consuma apenas água potável e lave bem as frutas e vegetais, de preferência deixando-os de molho em solução com hipoclorito de sódio;
Evite compartilhar toalhas, copos e talheres, e redobre os cuidados com a higiene se houver alguém doente em casa;
Ao tossir ou espirrar, cubra a boca e o nariz com a dobra do cotovelo. Se usar as mãos para isso, lave-as depois;
Procure ficar em casa quando está doente.
Fontes: Nanci Bellei, infectologista e virologista, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia); Robério Dias Leite, infectologista pediátrico e membro do Departamento Científico de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatra); CDC (Centers for Disease Control and Prevention); Ministério da Saúde.