terça-feira, 31 de outubro de 2017

Como educar sua filha para uma vida sexual segura e prazerosa



Imagem: Getty Images
Helena Bertho
do UOL

Falar de sexo com os filhos em geral nunca é fácil, mas com meninas o assunto fica ainda mais delicado. É que, além do fantasma das doenças e de uma gravidez indesejada, existe uma outra questão muito importante: muitas mulheres não sentem prazer (aqui no Brasil, 40% delas dizem não ter orgasmos).

A pesquisadora norte-americana Peggy Orenstein entrevistou jovens de 15 a 20 anos por três anos sobre o assunto e notou que, apesar de as mulheres estarem tendo mais relações sexuais, elas ainda não sentem prazer.

É preciso falar

Ela acredita que, quando os pais não abordam as questões sobre sexualidade dentro de casa, acabam deixando para a mídia e a internet. A conversa franca e honesta para ela é a melhor saída. "Isso inclui quebrar o maior tabu de todos e falar com jovens sobre a capacidade e o direito das mulheres de ter prazer sexual", diz ela. 

Segundo a psicóloga Giovanna Luchesi, especialista do Instituto Paulista de Sexualidade (Inpasex), os pais falam mais sobre sexo com os meninos, mas com as filhas o assunto acaba sendo um tabu. Ela reforça que, para que meninas tenham uma sexualidade segura e prazerosa, é preciso encarar isso.
O momento de falar

"Um dia, meu filho de seis anos perguntou o que era transar", conta a fotógrafa Lu Cristhovan, 39."Minha filha mais velha, de 10, respondeu que era coisa de adulto. Nesse momento percebi que era hora de falar sobre sexualidade."

Segundo a psicóloga Giovanna Luchesi, especialista do Instituto Paulista de Sexualidade (Inpasex), esse é o caminho ideal: deixar que as crianças tragam as questões. "E, diante daquilo que a criança está perguntando, explicar no nível que ela é capaz de entender", diz.

Para a jornalista Mariana Varella, 44, mãe de duas meninas, isso significa responder todas as perguntas que fazem, sem que nenhum assunto seja proibido. "Perguntou, tem resposta. Mesmo que a gente tenha dúvidas, falamos exatamente isso: 'não sei, vamos ver juntas?', conta.
Como e o que falar

O principal ponto é falar de sexo como se fala de qualquer outro assunto, com naturalidade. Sem criar na criança a sensação de que é um assunto proibido, sobre o qual ela não deve perguntar.

Além disso, a psicóloga recomenda ir além das falas sobre o sistema reprodutivo em si. "Tem que falar da vagina, ajudar a menina a reconhecer, se aproximar, desmistificar as sensações. Desde pequena dizem que é feio, proibido, ruim. Mas é preciso explicar, para que ela comece a se aproximar, conhecer o clitóris e entender o que pode dar prazer", explica Giovanna.
Mas eu tenho dificuldade para falar desses assuntos

Claro que sexo ainda é um assunto tabu e muitos pais não ficam à vontade para abordar o assunto com os filhos. Então, como fazer? Giovanna recomenda usar livros sobre sexualidade. "Se existe uma dificuldade direta de se comunicar, pode trabalhar com livros ou contar com profissionais, como psicólogos e educadores, que podem facilitar essa comunicação junto aos pais. Lembrando que quando não há comunicação, o risco de ter um comportamento sexual que possa trazer prejuízos aumenta", diz a especialista. E lembra que proibir muitas vezes faz apenas com que os jovens escondam dos pais o que fazem.
Autoestima é essencial: o prazer das meninas também é importante

Para Mariana Varella, antes mesmo de falar sobre sexo, o esforço deve estar em reforçar a autoestima de suas filhas. "Passa por aquilo da posição da mulher, ainda à mercê do homem no sexo, ainda é muito desigual. Além da informação básica, tento passar isso de elas elas se valorizarem, se sentirem dignas de cuidados e merecedoras, tanto de se prevenir, quanto para ter prazer", diz.

Isso quer dizer estimular a menina a saber do que gosta, buscar o que é de melhor qualidade para ela, aprender a lidar com críticas e sustentar sua posição. "Com isso, ela vai validar que o não dela é importante, deixar de se colocar em situação de fazer aquilo que os outros esperam e optar pelo que realmente quer", diz Giovanna. É preciso que a menina entenda que ela é merecedora de prazer e de cuidado.
Tem que querer e ser bom

Isso começa desde pequena. É importante ensinar as meninas a falarem não e não estimular a aceitarem contatos físicos indesejados. Se ela não quer o abraço do tio, tudo bem. Com isso, você vai mostrando que ela vai poder dizer não quando um menino quiser fazer algo que ela não quiser.

Além disso, quando falar de sexo, lembre-se de ir além de "como são feitos os bebês", explique que a relação envolve prazer e que se dói, ela não deve continuar.
Sexo não é só penetração

Uma das coisas que Peggy Orenstein notou em sua pesquisa foi que muitas mulheres participam de atos como sexo oral ou masturbação considerando que isso não é sexo. E isso faz com acabem correndo riscos e também passando por situações desagradáveis.
As especialistas reforçam que é importante deixar claro que essas coisas são sexo sim e devem ser feitas apenas se ela quiser e com cuidado. Lembrando sempre também de deixar claro para sua filha de que a reciprocidade é parte importante do sexo.
Não é feio, nem errado

Giovanna lembra que, enquanto se estimula meninos a se masturbarem, o contrário é feito com as meninas. Mas se os pais flagrarem a filha se tocando, a recomendação da psicóloga é nunca dizer que aquilo "é feio" ou "errado". É que dizendo isso, a mulher passa a ligar o prazer sexual a culpa. O ideal é explicar que existem momentos e lugares para fazer esse tipo de coisas.

Fonte: https://estilo.uol.com.br